Transplante raro recupera visão com uso de um dente

Esta foi a primeira cirurgia do tipo realizada nos Estados Unidos. Duas semanas depois de várias seções de tratamento intensivo, a paciente tem agora 20/70 da visão de um dos olhos, que, segundo preveem os médicos, deverá continuar melhorando à medida que ela se recupera.

Em 2000, Sharon Thornton foi diagnosticada como portadora de síndrome de Stevens-Johnson, doença rara que pode destruir células da pele ─ e da córnea. Mesmo depois de ter se recuperado da doença, provocada por uma reação a medicamento, suas córneas ─ a membrana que recobre os olhos ─ estavam muito escoriadas para permitir que ela enxergasse ou recebesse um transplante.

Depois dos tratamentos com células-tronco, em 2003, terem falhado na recuperação de sua visão, os médicos continuaram em busca de alternativas. Victor Perez, professor-associado de oftalmologia do Instituto da Visão Bascom Palmer, da University of Miami, decidiu tentar a ósteo-odonto-queratoprótese modificada (MOOKP, na sigla em inglês) que ele chama de procedimento “em último recurso”.

Para dar início ao processo, que dura meses, os médicos removeram um dente canino da paciente ─ juntamente com parte da mandíbula e o recortaram até obter dimensões compatíveis com as da córnea.

Em seguida, os médicos fizeram um pequeno orifício para inserir uma lente. Para que o dente se ajustasse perfeitamente à lente, o implante foi mantido por alguns meses no corpo da paciente. No caso de Thornton, o osso foi implantado perto do ombro.

Para preparar o olho para receber o dente e a lente, os médicos colocaram sobre o olho um enxerto retirado da bochecha com o objetivo de manter a umidade. O produto final lente-dente foi removido do ombro de Thornton e posicionado no centro do olho, alinhado com a retina.

O procedimento MOOKP foi desenvolvido na Itália em 1963 e se tornou mais comum na Europa e Ásia, mas somente cerca de 600 cirurgias foram realizadas até hoje. Dado o pequeno número de tratamentos, sua eficácia ainda não é garantida e alguns médicos ainda estão receosos em aplicá-la.

“Ela exige uma equipe médica razoável e várias cirurgias. É apenas uma variação extrema de técnicas que já estamos utilizando”, observa Ivan Schwab, da Academia Americana de Oftalmologia.

O procedimento também requer que o enxerto de tecido da bochecha permaneça sobre a superfície do olho, o que dá uma aparência estranha. Para torná-lo mais natural, os médicos costumam utilizam um revestimento cosmetológico fino que simula um olho artificial.

Para algumas pessoas, no entanto, esse procedimento pode representar uma oportunidade de recuperação da visão. Mesmo em pacientes aptos a receber transplante de córnea, o corpo, às vezes, rejeita o tecido estranho. Utilizar uma parte do próprio corpo torna as pessoas mais propensas a aceitar a lente necessária.

Depois de concluído o procedimento, em 1º de agosto, Thornton voltou a reconhecer rostos novamente, após nove anos. Ela comentou posteriormente que estava ansiosa para poder ver os netos mais novos pela primeira vez ─ e voltar a assistir a seus programas de TV favoritos.