Projeto cria tecnologia para separação de resíduos sólidos
Um equipamento que segrega os resíduos sólidos (lixo) de forma mecanizada, priorizando a retirada dos resíduos orgânicos (restos de comida), promete ser uma solução para a destinação final do lixo produzido nas cidades e para pôr fim aos lixões que tanto preocupam governantes e a sociedade.
A questão da destinação final ambientalmente adequada para o lixo produzido diariamente nas cidades tem ganhado destaque a partir do momento em que os lixões a céu aberto foram reconhecidos como uma grande ameaça para a saúde pública e para o meio ambiente. Segundo a Lei Federal nº 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), desde 2 de agosto de 2014 resíduos sólidos e rejeitos deveriam ter destinação final ambientalmente adequada. Os lixões a céu aberto deveriam ter deixado de existir, no entanto, isso não aconteceu em grande parte dos municípios brasileiros.
Dados do “Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil” dão conta de que 60% dos municípios brasileiros ainda encaminham resíduos para locais inapropriados e há lixões em todos os Estados. Nesse cenário, o Separador e Processador de Resíduos Sólidos desenvolvido pela empresa Reciclagem Conservação e Limpeza Ltda – Recicl, com sede em Açailândia, tem como proposta dar uma solução inovadora e economicamente viável para este problema.
A ideia da máquina, segundo explicou o proprietário da empresa, Aristóteles Nunes Palhano, surgiu depois de visitas feitas a lixões de Açailândia na busca de materiais recicláveis.
“Estive comprando materiais recicláveis dentro do lixão de Açailândia e lá pude constatar a forma rudimentar e insalubre que os catadores executam o processo de segregação dos materiais recicláveis. A partir desta condição, idealizei o processo mecanizado com o propósito de executar essa tarefa de forma mecânica em que os trabalhadores tivessem o mínimo contato com os resíduos”, conta.
Para tocar o projeto, o empresário buscou o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), por meio do edital Tecnova nº 038/2013, que tem como objetivo apoiar projetos inovadores nas empresas. O projeto também conta com o apoio da Federação das Indústrias do Maranhão (Fiema) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).
O protótipo da máquina já está montado e foram efetuados pré-testes com o apoio da equipe técnica do SENAI. De acordo com Aristóteles, no próximo dia 28 um novo teste operacional será feito para verificar o volume processado e o tempo estimado para essa operação, os materiais segregados, entre outros aspectos.
Quanto ao funcionamento do equipamento, ele segue o seguinte fluxo: na primeira etapa os resíduos são inseridos na máquina na forma como são coletados, dentro das sacolas, sendo levados por uma correia transportadora que alimenta uma peneira rotativa. Na segunda etapa as sacolas são abertas por um sistema interno de lâminas para que os resíduos fiquem a granel dentro da peneira. A partir deste processo, os resíduos orgânicos são retirados por gravidade da peneira rotativa e os demais resíduos são lançados para fora da peneira por um sistema de palhetas helicoidais, caindo sobre outra esteira rolante.
Na terceira e última etapa o processo de segregação do lixo é concluída. Depois de passar por um sistema de sopro que retira da esteira os materiais de maior volume e baixa densidade, tais como embalagens plásticas, sacolas, papelão e todo material leve, um eletroímã retira os materiais ferrosos, deixando ao final do processo os rejeitos que serão levados para o aterro sanitário.
Aristóteles destaca que dentre as inúmeras vantagens do novo produto estão os impactos positivos para a segurança e para saúde pública, dadas a partir da minimização do contato direto do catador com os resíduos no processo de segregação; o aumento da produtividade, pelo simples fato de se tratar de um processo mecanizado que agregará um considerável ganho neste aspecto; e ainda contribuirá para a inclusão social, uma vez que os catadores passarão a exercer uma tarefa mais nobre de classificação do material e não mais de segregação, resultando em materiais recicláveis com maior valor agregado.
Soma-se a essas vantagens a viabilidade econômica.
“A simplicidade do processo aliada aos custos dos implementos necessários para sua construção, viabilizam sua instalação em pequenos municípios, até mesmo bairros, o que não é possível em Usinas de Triagem e Compostagem convencionais”, destaca o empresário.
Por fim, Aristóteles explica que não haverá necessidade de alteração do sistema convencional de coleta. “Trata-se de uma Usina de Triagem e Compostagem com uma proposta tecnológica diferenciada do convencional. O local de instalação depende do volume a ser processado. Em pequenos municípios pode-se criar uma única estação de tratamento e uma área de compostagem para os resíduos orgânicos, em grandes metrópoles devem ser criadas unidades de tratamento dos resíduos em pontos estratégicos e uma única área de compostagem para os orgânicos e um aterro sanitário para os rejeitos”, conclui.