Poluentes orgânicos em águas superficiais de São Luís é objeto de pesquisa
Um dos principais debates científicos contemporâneos está relacionado à presença de um grupo específico de agentes químicos no meio ambiente.
Conhecidos genericamente como perturbadores endócrinos ou agentes hormonalmente ativos (HAAs), esses compostos podem inibir ou alterar a atividade hormonal do organismo, prejudicando a saúde de pessoas e animais.
Entre os possíveis males provocados por essas substâncias, incluem-se doenças como câncer de mama e de próstata, desenvolvimento sexual anormal, redução de fertilidade masculina, alteração de glândulas tireóides, supressão de imunidade e problemas neurocomportamentais.
“As consequências adversas de um perturbador endócrino vão depender das doses, da carga genética, da forma e da duração da exposição a períodos críticos de vida. Esses efeitos podem ser reversíveis ou não e se manifestar de forma aguda ou latente”, explica a professora Dra. Natilene Mesquita Brito, do Instituto Federal do Maranhão – IFMA.
Doutora em Química pela USP de São Carlos, Natilene Brito atua desde 2006 em pesquisas sobre resíduos de poluentes orgânicos – substâncias químicas não naturais a determinados ambientes – em diversas matrizes: água, solo e alimentos.
Atualmente, a professora Dra. Natilene Brito desenvolve o projeto “Ensaios Toxicológicos em Águas Superficiais da Cidade de São Luís”, que pretende avaliar a presença de hormônios femininos e perturbadores endócrinos nas águas superficiais e reservatórios para abastecimento da capital do Maranhão.
De acordo com a pesquisadora, a ideia de diagnosticar agentes químicos em águas maranhenses se justifica porque o índice de tratamento de esgoto e efluentes no estado é baixo, o que aumenta as chances de contaminação.
Segundo Pesquisa Nacional de Saneamento Básico realizada pelo IBGE em 2008, 71,5% dos municípios brasileiros não tratam o esgoto produzido e a descarga é feita nos rios que, em sua maioria, fornecem a água para consumo humano.
O despejo direto nos rios influi negativamente na qualidade dos recursos hídricos e da água de abastecimento do país. As regiões Norte e Nordeste são as que possuem os mais baixos percentuais de tratamento e coleta de esgotos. Com 1,4%, o Maranhão foi o estado nordestino que apresentou menor percentual de tratamento de esgoto.
“O diagnóstico de poluentes orgânicos nas águas de abastecimento de São Luís pode trazer grandes benefícios à população, pois, mesmo que estejam em pequenas concentrações, essas substâncias podem causar sérios prejuízos à saúde das pessoas, como diminuição da contagem de espermatozoides, atrofia do pênis, desenvolvimento dos mamilos nos meninos, nascimento de crianças acéfalas, entre outros problemas registrados na literatura”, declarou a professora.
Para dar suporte aos ensaios toxicológicos em águas superficiais, a pesquisadora utiliza um método analítico considerado sensível, simples e relativamente rápido: a análise da água potável e superficial por HPLC, com detecção por fluorescência.
O método analítico capaz de identificar e quantificar a presença destes compostos na água foi desenvolvido pela aluna do Mestrado em Biodiversidade e Conservação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Suzyéth Melo.
Após a fase de aplicação do método, os pesquisadores analisaram as águas de abastecimento. Segundo Natilene Brito, não foram encontrados agentes químicos nas amostras. Na próxima etapa, serão analisadas a água mineral e a água obtida da estação de tratamento de esgoto.