Pesquisadores do IFMA lançam cartilha sobre comunidades quilombolas de Bequimão
Dados importantes sobre a realidade socioeconômica e ambiental das 11 comunidades remanescentes de quilombos de Bequimão, distante 54km da capital São Luís, podem ser conhecidos em cartilha lançada por pesquisadores do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) – Campus Maracanã e do Campus Itapecuru. O material chegou às mãos de quilombolas e de gestores do município durante a cerimônia de abertura da Semana do Bebê Quilombola, realizada no dia 07 de dezembro. Com esse diagnóstico detalhado, será possível aprimorar as políticas públicas voltadas à população dessas comunidades.
A equipe do Núcleo de Maricultura (Numar), formada pela professora Izabel Funo (Campus Maracanã), coordenadora do estudo, pelo professor Caio Lourenço (Campus Itapecuru) e pelo estudante da Licenciatura em Ciências Agrárias, Paulo Protasio, percorreu as comunidades de Ariquipá, Conceição, Juraraitá, Marajá, Mafra, Pericumã, Ramal de Quindíua, Rio Grande, Santa Rita, Sibéria e Suassuí, todas já certificadas pela Fundação Palmares. Nelas, conversaram com 144 moradores, que responderam a questionários, com perguntas voltadas a compor o perfil demográfico e a compreender a organização econômica, a relação com o meio ambiente e as demandas por capacitações técnicas.
“Vivenciar um pouco da realidade das 11 comunidades remanescentes quilombolas de Bequimão permitiu compreender as lutas e demandas dessas comunidades tradicionais por políticas públicas que possam garantir seus direitos”, comentou o pesquisador Caio Lorenço, doutor em Ecologia Aplicada. Nas comunidades quilombolas, onde moram cerca de 670 famílias, os pesquisadores identificaram, por exemplo, que 91% da produção rural são destinados ao consumo próprio e apenas 9% vão para comercialização. As terras ancestrais abrigam o cultivo de alface, cebolinha, cheiro-verde, milho, feijão, mandioca e arroz. Há lugar, ainda, para laranja, murici, batata doce, banana, coco e abacate, em frutíferas próximas às casas.
Os homens e as mulheres dos quilombos cultivam e extraem o sustento de suas famílias do trabalho árduo na agricultura e, muitos deles, também se dedicam à criação de galinhas, bovinos, suínos, caprinos, patos, capotes e peixes. O alimento é garantido nas mesas, mas, apesar de tanto esforço, a produção ainda não tem sido usada para gerar mais renda aos quilombolas. Segundo dados divulgados na cartilha, a renda por pessoa varia entre R$ 83,53 e R$ 449,71. Mais de 42% da população dependem de benefícios sociais, como o Bolsa Família, e 25% vivem da aposentadoria.
Nas conversas com os pesquisadores, os moradores das comunidades disseram que têm interesse em aprender mais sobre o trabalho técnico no campo. A cartilha traz, inclusive, as principais demandas por capacitações. Duas delas já foram ofertadas: cultivo de ostras e cultivo de peixe. “Pude observar o potencial das comunidades quilombolas, o desejo de aprender coisas novas, que emanava de seus olhares curiosos durantes as atividades teóricas e práticas”, destacou o jovem pesquisador Paulo Protasio (foto) que fez uma análise ainda mais detalhada em sua monografia “Caracterização socioeconômica e ambiental e capacitação em aquicultura nas comunidades remanescentes de quilombolos do município de Bequimão, Maranhão”, defendida em dezembro. O trabalho foi orientado pela professora Izabel Funo e coorientado pelo pesquisador Romulo Gomes (IFMA – Maracanã), que é bequimãoense.
“Foi gratificante retornar às comunidades, meses após uma capacitação técnica, e observar que eles estavam manejando corretamente os viveiros e que isso já estava impactando positivamente nos parâmetros do empreendimento deles. Também foi importante ver que os resultados do projeto, publicados no formato de cartilha, já estão sendo utilizados pelos gestores locais”, comemorou a coordenadora do projeto, professora Izabel (à esquerda na foto).
Meio Ambiente
Em comunidades remanescente de quilombolos, a relação com a natureza e com os diferentes elementos dos territórios é muito forte. Apesar disso, em Bequimão, poucos quilombolas conhecem a existência de áreas protegidas. Segundo levantamento feito pela equipe do Numar/IFMA – Campus Maracanã, 95,1% não sabem que suas terras estão dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) das Reentrâncias Maranhenses, da APA da Baixada Maranhense e da Reserva Extrativista Itapetininga.
Nas comunidades, também foi identificada a necessidade de ampliar os cuidados com o descarte de lixo e maior controle das queimadas e do desmatamento. Esses dados podem ser discutidos e servir de base para a elaboração de ações e projetos junto com os quilombolas. “Esta cartilha é uma ferramenta essencial para dar visibilidade a essas comunidades, a fim de que a gestão municipal, entidades públicas e privadas, Organizações não governamentais (ONGs) e as instituições de ensino possam conhecer as necessidades e potencialidades das comunidades e, com essas informações, desenvolver projetos de inclusão social, produtiva e cultural nesses espaços”, frisou Paulo Protásio.
Parcerias
A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), por meio do edital nº 040/2017, de Inclusão Produtiva Quilombola, e teve suporte da Prefeitura Municipal de Bequimão, intermediada pela Secretaria Municipal de Cultura e Promoção da Igualdade Racial, inclusive para a confecção da cartilha.
No lançamento da cartilha “Comunidades Remanescentes de Quilombos de Bequimão, MA: caracterização socioeconômica e ambiental”, estavam o prefeito eleito do município, João Martins, o secretário municipal de Cultura e Promoção da Igualdade Racial, Rodrigo Martins, a consultora de Projetos Sociais da Fundação Josué Montello e representante do Unicef, Claudete Ribeiro, a representante da Unegro, Andrea Rabelo, o representante do Movimento Quilombola de Bequimão (MoqBeq), Fábio Costa, além de lideranças e moradores das 11 comunidades quilombolas.
Para acessar o arquivo da cartilha em formato pdf, clique neste link
Redação: Rômulo Gomes / IFMA Maracanã
Fotos: divulgação