Pesquisa estuda sistema de produção de alimentos para agricultura familiar
A aquaponia é um sistema de produção de alimentos que combina a aquicultura convencional (criação de animais aquáticos como peixes, lagostas e camarões) com a hidroponia (cultivo de plantas em água) em um sistema de recirculação de água e nutrientes. É uma alternativa real para a produção de alimentos de maneira menos impactante ao meio ambiente.
No Brasil, a aquaponia ainda se encontra em níveis experimentais e pouco difundida. Contudo, em alguns países têm sido mais explorada, com destaque para a Austrália, Estados Unidos, Israel e México. Estes países têm sérias dificuldades com a oferta de água, o que os obriga a buscar alternativas viáveis para a produção de alimentos com o máximo aproveitamento da água.
Buscando aproveitar essas características promissoras para o pequeno agricultor familiar, a zootecnista Jane Mello Lopes, doutora em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), desenvolveu uma pesquisa com o objetivo de avaliar o crescimento do tambaqui (Colossoma macropomum) e do híbrido tambatinga (Colossoma macropomum x Piaractus brachypomum) nas fases de alevinagem (produção dos filhotes dos peixes) e recria associadas ao desenvolvimento da alface (Lactuca sativa L.).
“A intenção é estender estudos focados em espécies de peixes nativos e de interesse para a região do Baixo Parnaíba. A técnica possibilita minimizar ou eliminar o lançamento de efluentes das atividades de piscicultura no meio ambiente. E a produção de alface em sistema aquapônico gera um produto saudável e diferenciado onde utiliza nutrientes orgânicos, ao contrário da hidroponia tradicional que utiliza nutrientes inorgânicos”, explica Jane Mello Lopes, professora do Centro de Ciências Agrárias e Ambientais (CCAA) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
De acordo com a pesquisadora, o experimento com tambaqui foi dividido em duas fases: a primeira de alevinagem (200 peixes/1000 L) com duração de 40 dias e a segunda fase a recria/terminação em 70 dias (50 peixes/2000 L). O experimento com a tambatinga teve duração de 140 dias e igualmente foi dividido em alevinagem (50 dias) e recria (90 dias).
“Foram avaliados os seguintes parâmetros: crescimento dos peixes em peso e comprimento; taxa de crescimento especifico; conversão alimentar aparente; sobrevivência final; a produtividade da alface foi avaliada, através do número de folhas, massa de material fresco, altura e comprimento da cabeça e comprimento da raiz”, diz Jane Mello Lopes.
Resultados
Os resultados da pesquisa mostraram que a qualidade da água se manteve nos padrões aceitáveis e não influenciou negativamente a produção dos peixes quando associadas ao sistema hidropônico com recirculação de água.
Segundo a zootecnista, quanto ao desempenho, na densidade de 200 peixes/m3 (biomassa de 0,5kg/m3) os tambaquis aos 40 dias ganharam 7 vezes o peso inicial atingindo a biomassa final de 3,4kg/m3. Na recria (70 dias) na densidade de 50 peixes/2m3 (biomassa 0,85kg/2m3), a produção foi de 3,8Kg.
Já em relação às tambatingas, os animais (biomassa inicial 0,08kg/m3) apresentaram ao final de 50 dias um crescimento trinta vezes maior, com biomassa final de 2,4 kg/m3. Na fase de recria (90 dias) as tambatingas foram mantidas em densidades menores que o tambaqui (25 peixes/2m3), contudo atingiram biomassa final igual (3,8 kg/2m3).
“O crescimento médio da alface durante o primeiro ciclo de 40 a 50 dias não apresentou resultados satisfatórios para a comercialização, principalmente em relação ao número de folhas/plantas (media 10 folhas), peso fresco das plantas de 50g e 16,81 ± 2,59 cm de altura”, ressalta a pesquisadora.