Ônibus espaciais: uma história de tragédias e conquistas

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Por Ivanildo Santos 28 de outubro de 2009

A Nasa prepara para esta terça-feira o lançamento de um protótipo de foguete da série Ares, desenhada para substituir os ônibus espaciais da agência espacial americana. Durante quase três décadas, esse tipo de nave transformou as viagens ao espaço quase numa rotina para os americanos. Mas nem sempre foi assim. Embora as viagens pelo cosmo sejam uma realidade desde o voo pioneiro do soviético Yuri Gagárin, em 1961, as naves eram praticamente “descartáveis” antes da década de 1980 e, uma vez de volta à Terra, não podiam ser reuonibus-espacial-endeavourtilizadas.

Tudo mudou com o lançamento do Columbia, em abril de 1981, que abriu as perspectivas na utilização do espaço para fins civis e militares. O veículo, uma mistura de foguete com avião, foi apontado na ocasião como “a mais complexa máquina de voar jamais criada pelo homem”. Um de seus principais diferenciais, além de ser renovável, era ter sido concebido para subir, descer, ziquezaguear e, ao final da jornada, virar um planador.

Dois anos depois, o Columbia já tinha um sucessor menos pesado e mais potente, o Challenger, que acabaria protagonizando um dos episódios mais trágicos da história da astronáutica. Aconteceu no dia 28 de janeiro de 1986, quando a nave recuperável realizava sua décima missão espacial e, pela primeira vez, trazia a bordo um cidadão comum, a professora Christa McAuliffe, de 37 anos. O voo durou apenas 73 segundos – e se espatifou nos céus devido a um vazamento de combustível. A explosão matou seus sete tripulantes.

O acidente paralisou o programa espacial da Nasa (agência espacial americana) por quase três anos, até o lançamento da nave Discovery, no dia 29 de setembro de 1988. Com o objetivo de garantir segurança máxima na missão, foram feitas várias mudanças na estrutura do ônibus espacial. Uma das principais reformas foi realizada nos foguetes propulsores de combustível sólido, cujo defeito provocou o desastre de 1986, para que eles suportassem uma pressão três vezes maior.

Um ano depois, foi lançado o ônibus espacial Atlantis, levando a bordo uma tripulação de cinco astronautas e a sonda Galileo – tida pelos especialistas como o “Rolls-Royce dos equipamentos espaciais” devido à precisão de seus instrumentos. A viagem do Atlantis seria curta, pois sua volta estava marcada para dentro de quatro dias, mas a missão era grandiosa: enviar a sonda rumo a Júpiter e à origem do sistema solar.

Em abril de 1990, a Nasa proporcionou outro marco na exploração do espaço, com o lançamento do telescópio Hubble a bordo do Discovery. O instrumento de observação, capaz de distinguir a chama de um palito de fósforo na Lua, é o mais potente equipamento do gênero já colocado no universo. Ele ainda está na ativa.

Na metade da década de 1990, uma missão inaugurou uma era de colaboração entre os antigos rivais na corrida espacial. Russos e americanos se encontraram a 392 quilômetros da superfície terrestre na acoplagem do ônibus espacial Atlantis, dos Estados Unidos, à estação orbital Mir, da Rússia, em um passo decisivo para a construção da Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês), originalmente batizada de Alpha.

Três anos se passaram até que a Nasa lançasse o ônibus espacial Endeavour, que trazia em seu compartimento de carga o segundo módulo da futura estação orbital internacional. Os astronautas do veículo americano tinham a missão de capturar o módulo Zarya – lançado no espaço duas semanas antes por um foguete russo para servir como captador de energia e transmissor de comunicações da ISS – e nele acoplar o segundo módulo. Desde então, os ônibus espaciais fazem viagens para reabastecer a estação.

Mas os tempos de bonança estavam com os dias contados. Em 2003, uma nova tragédia voltou a pôr em dúvida a decisão de enviar astronautas para o espaço. No dia 1º de fevereiro, três dias após o aniversário de 17 anos do acidente com o Challenger, uma fissura na asa do Columbia fez com que a espaçonave se desintegrasse ao entrar na atmosfera, faltando apenas 16 minutos para o horário previsto de pouso. Todos os sete tripulantes, que haviam passado 16 dias em órbita, morreram.

Em agosto de 2005, a nave Discovery virou notícia mais uma vez. Pela primeira vez, um astronauta deixou uma nave para realizar consertos na parte externa de sua fuselagem, a fim de evitar um desastre semelhante ao que desintegrou o ônibus espacial Columbia. A “manutenção” consistiu na retirada de dois pedaços de 3 centímetros de comprimento do tecido isolante que fica entre as placas de revestimento térmico da nave, os quais se soltaram durante o lançamento do Discovery. Para isso, o americano Stephen Robinson teve de ficar preso pelos pés ao braço robótico da ISS, na qual a nave estava acoplada.