Obra de pesquisadora questiona critérios de avaliação do Enem
Uma pesquisa, baseada na fala e escrita de alunos de uma escola pública de São Luís, buscou demonstrar que a exclusão social desses estudantes pode estar sendo reforçada por meio dos critérios de avaliação utilizados no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). A obra “Português falado e escrito: o Enem em questão”, da professora Kátia Cilene Ferreira França, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) surgiu das inquietações da autora, enquanto professora do ensino médio de escolas públicas e privadas, ao observar que os resultados da prova de redação do Enem apontavam um problema grave com relação aos alunos de escola pública.
“Português escrito e falado: o Enem em questão”, resultado da pesquisa do curso de mestrado em Educação, se tornou livro por meio do apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), e foi lançado na noite da última sexta-feira, 16, no Palácio Cristo Rei.
A autora destaca que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nasceu com uma proposta diferenciada, de que a prova seria contextualizada de forma a contemplar as diferentes realidades, porém repetidamente os resultados apontavam uma diferença entre os alunos de escola pública e privada. “Se o Enem é um exame neutro e adequado a todas as realidades sociais, o que justificaria a conclusão de que os alunos de escola pública possuem menor competência em relação aos demais?”, indaga a autora.
A pesquisa analisou os textos e a fala dos estudantes, não à luz de técnicas da norma padrão e manuais de redação – como aplicado pelo Exame -, mas entrelaçando conceitos da Sociolingüística e da Sociologia da Educação, o que permitiu concluir que os alunos de escola pública escrevem e falam o seu mundo social, ao qual deve ser estabelecido um valor. “Eu verifiquei que eles têm muito o que dizer, porém não aprenderam a fazê-lo da maneira que foi convencionada como aceitável para merecer uma boa nota”, explica.
Segundo Kátia França, nesse contexto, a neutralidade do Enem é questionável, pois se realmente assim o fosse não haveria diferenciação nos resultados e a conseqüente comparação. “As estratégias adotadas pelo Exame reforçam uma discriminação por meio da escrita, camuflada por um discurso meritocrático”, avalia.
LANÇAMENTO – Participaram da solenidade o orientador de mestrado da professora Kátia França, Antonio Paulino de Sousa; o Pró-Reitor de Ensino da Ufma, Aldir Araújo Carvalho; e o vice-reitor da Universidade, no exercício da Reitoria, Antonio José Oliveira, que saudaram a pesquisadora pelo esforço e pela relevância da obra.
“A produção acabada representa uma prestação de contas para com a sociedade pelo trabalho contínuo”, elogiou Antonio Jose Oliveira.