Nelson Vaz apresenta nova abordagem para a imunologia

Prof._Nelson_Vaz
Por Ivanildo Santos 31 de agosto de 2009

Uma das maiores autoridades em imunologia no Brasil, Nelson Vaz, esteve nesta segunda-feira (31) na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema). Ele reuniu-se com a diretora-presidente da instituição, Rosane Nassar Guerra, e nos antecipou detalhes da apresentação que fará hoje, às 18:30h, no mestrado de Ciências da Saúde, da Universidade Federal do Maranhão (Ufma).

O imunologista defende um novo modo de pensar a área, desmistificando a comparação da imunidade com uma organização militar: ataque-defesa, como é vista, segundo ele, pela imunologia tradicional. Confira, a seguir, trechos da entrevista.   Prof._Nelson_Vaz 

As suas pesquisas abordam aspectos básicos da imunologia, inclusive seu próprio conceito. Como o senhor enxerga esse campo?

Sou visto como um pessimista da imunologia. Mas uma nova abordagem nos possibilita entrar em outro caminho. Não conhecer imunologia é uma vantagem, porque para alavancar um novo modo de ver é preciso estar despido dos preconceitos que dificultam a aprendizagem. A imunologia tanto para especialistas quanto para leigos é pensada como um mecanismo de defesa. Essa idéia de que tem um fantasma controla a defesa dentro de você é assustador. Na mente de pessoas leigas isso tem seu lugar; o problema é que os especialistas, de uma maneira geral, pensam assim também. A metáfora defensiva é vista como tema central na discussão da imunologia.

E qual seria a visão mais adequada?

Essa defesa tradicional aborda três aspectos: primeiro, ela é extremamente específica. O fato de você ficar imune ao sarampo não te protege da poliomielite e vice-versa; uma gripe não protege de outra gripe. Segundo é a memória, ou seja, há certas doenças que você só tem uma vez. O corpo se lembra e reage de uma maneira mais eficiente. No período entre a primeira e a segunda exposição, o organismo manteve certa memória e por isso consegue se lembrar do que aconteceu. O terceiro ponto é que normalmente não se produz respostas imunes ao seu próprio corpo. Isso significa que esse fantasma tem a capacidade de discriminar o que pertence ou não ao corpo. Esse é o tripé no qual a imunologia está apoiada, o que é perfeitamente compreensível, mas existem argumentos conhecidos na imunologia que são contrários a essa ideia.

Que argumentos seriam esses?

Existe a ideia de que o organismo separa o que é próprio do que é estranho. Mas na sua alimentação, por exemplo, tem proteínas estranhas ao corpo. Isso é uma evidência de que a história não é bem assim. A gente tem anticorpos que reagem por causa de componentes do corpo, embora eles não lhe façam mal algum. Só quando essa formação de anticorpos sofre algum enguiço é que aparece alguma doença. O que apresento é outra possibilidade de ver a imunologia, sem acreditar que a coisa é muito particular para tudo que acontece. Não existe um mecanismo específico, particular, para lidar com o que é estranho. Você lida com o que é estranho usando os seus mecanismos de viver, usando o seu mecanismo de autoconstrução e de auto manutenção. Não existe um propósito defensivo em células, moléculas ou órgãos. Essa idéia militar não funciona na biologia. É uma idéia simples demais para ser verdade. Usar essa metáfora tem nos atrapalhado muito.