Irradiar alimentos e tratar pedras preciosas são outras aplicações da energia nuclear

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Por Ivanildo Santos 16 de outubro de 2009

Ao contrário do que muitas pessoas pensam o consumo de alimentos irradiados não é prejudicial à saúde. A radiação ionizante é uma eficiente alternativa de conservação de alimentos aprovada em mais de 30 países. O processo consiste na irradiação dos produtos por fontes de cobalto, composto químico normalmente importado da Argentina e do Canadá, em aceleradores de elétrons, que conferem maior resistência aos alimentos.

No Brasil, a tecnologia é bastante empregada em especiarias, como pimenta do reino e ervas seca, para eliminar fungos. A alternativa é utilizada também no tratamento de pedras preciosas, esterilização de insetos, de produtos cirúrgicos e de higiene pessoal. Hoje, dois radiadores particulares são utilizados na esterilização de materiais hospitalares. 

Uma empresa interessada na montagem de um equipamento para essa finalidade precisa de investimento da ordem de R$ 3 milhões. A vida útil da máquina é longa, basta que a fonte radioativa seja renovada a cada cinco anos. A dificuldade para a realização dos processos de irradiação no País é a incapacidade de produção do cobalto.pedra_preciosas

O diretor-presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen/MCT), Odair Gonçalves, garante a eficiência das análises para cada elemento a ser irradiado. No caso de frutas “diversos estudos são realizados para se saber as fontes e o tempo ideal de irradiação para que sabor e cor não sejam alterados”, diz. Ele informa que existe no Brasil um projeto de um radiador que custa um terço do equipamento estrangeiro. “Estamos bastante avançados nessa área, mas, infelizmente, a cultura brasileira ainda não assimilou os radiadores de limentos”.

Há alguns anos o resultado de um estudo sobre irradiação de mangas foi apresentado aos produtores das cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), da região do Vale do São Francisco, mas não despertou muito interesse. Gonçalves acredita que essa realidade vai mudar, uma vez que as exigências para exportação de frutas estão cada vez mais rígidas.

As exigências de países como Estados Unidos, França, Alemanha e Japão, são muito mais para atender aos cuidados fitossanitários do que comerciais. Alas visam a impedir a entrada de pragas e de produtos com teores de agrotóxicos fora das especificações. “O Brasil terá que se adaptar cada vez mais, mas estamos preparados para quando isso ocorrer. Já teremos tecnologia e pessoas capazes para o atendimento”, ressalta Gonçalves.

Irradiação de pedras

O solo rico em pedras preciosas da região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais , tem despertado interesse de empresários da China, índia e Alemanha. Grande quantidade de quartzo, mineral altamente valorizado após processo de irradiação, é constantemente explorada pelos investidores externos.

O diretor do Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN/MCT), Sérgio Filgueiras, explica que a pedra, colorida ou não, pode ter valor triplicado com a aplicação do cobalto. “Se o material não pode ser colorido, interessa à indústria eletrônica. Se pode, dependendo da coloração, pode ser uma ametista ou um topázio, o preço passa de um dólar um quilo para mil dólares uma pequena pedra de alguns milímetros”.

Filgueiras destaca a importância de se capacitar os pequenos mineradores dessa e outras regiões para a exploração de pedras. De acordo com ele, projetos do governo de incentivo a produção local junto a institutos de pesquisa são fundamentais para o desenvolvimento econômico. Os mais marcantes no momento são os desenvolvidos no âmbito dos Arranjos Produtivos Locais (APLs) instalados em alguns estados.

Esterilização de Moscas

Outro emprego da irradiação nuclear é a produção de machos estéreis, que serão usadas no controle da mosca da fruta. Essa técnica é a utilizada pela Biofábrica Moscamed Brasil, em Juazeiro, na Bahia, para controle do inseto na região frutífera do Vale do São Francisco, de onde sai a maior parte das frutas exportadas pelo Brasil. O processo consiste na irradiação de cobalto da pupa da mosca macho, o que feito na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), em Recife. Após 48 horas os machos são liberados no ambiente e se acasalam com as fêmeas que não geram descendentes.

Cerca de 11 milhões de moscas estéreis são produzidas por semana. Os insetos são liberados nas culturas de manga, uva, goiaba e maracujá do Vale do São Francisco. Ainda este mês a Moscamed instala um ionizador que gera energia nuclear por meio da energia elétrica. O aparelho, importado dos Estados Unidos, facilitará o processo de esterilização, uma vez que não será mais necessário o emprego do cobalto.

Outro aspecto positivo trazido pelo novo aparelho é que ele interrompe o processo de ida das pupas para a irradiação no Recife, o que facilita se alcance a meta de produção de 200 milhões de moscas estéril semanalmente estabelecida quando da instalação da Moscamed há três anos.