Estudo destaca potencial do jucá contra rugas e manchas na pele
O jucá (Libidibia ferrea), também conhecido como pau-ferro, é uma árvore amazônica de pequeno porte mas grande potencial. O pó de sua casca é usado como chá pela medicina tradicional da região e para o tratamento de problemas no fígado ou no estômago. Industrializado, o extrato da casca entra na composição de diversas marcas de sabonete íntimo, por conta de propriedades antissépticas.
Sabia-se que o jucá tem propriedades terapêuticas. Um trabalho pioneiro de Emerson Silva Lima, professor na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), publicado em 2014, mostrou que a casca e a vagem do jucá possuem princípios antioxidantes e que também poderiam apresentar efeitos no tratamento de problemas do fígado.
A investigação das propriedades do jucá atingiu agora um novo patamar. Um artigo publicado no Archives of Dermatological Research destaca outros efeitos do jucá: antienvelhecimento e antipigmentação.
O artigo é assinado por Lima e outros 13 pesquisadores da Ufam, da Universidade de São Paulo, da Universidade do Estado do Amazonas e das universidades Federais de São Paulo e do Pará.
Segundo uma das autoras, Silvya Stuchi Maria-Engler, professora na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, o interesse na pesquisa específica se deu porque “não existiam informações sobre quais seriam os agentes antienvelhecimento na composição do extrato de jucá”.
A primeira autora do artigo, Tatiana do Nascimento Pedrosa, orientanda de Maria-Engler e bolsista da FAPESP, aponta que, na busca por determinar o potencial cosmético do jucá, a pesquisa indicou um elevado potencial clareador e antienvelhecimento. “O jucá apresentou resultados excelentes in vitro”, disse.
Ao analisar os efeitos da aplicação do extrato de jucá em células humanas in vitro, os pesquisadores perceberam o papel importante de um ácido específico. “No artigo, verificamos a presença de 18 agentes metabólicos presentes no jucá e, na literatura, verificamos que a maior ação antioxidante se dá por conta do ácido gálico”, disse Pedrosa.
O ácido gálico age sobre enzimas (tirosinase e colagenase) que atuam no envelhecimento e degradam o colágeno, o que, com o tempo, deixa a pele flácida, com rugas e com manchas.
O processo de envelhecimento da pele é consequência da incapacidade progressiva do sistema de defesa antioxidante em deter os efeitos danosos da ação oxidante nos tecidos. As consequências são a perda de elasticidade, a progressiva flacidez dos tecidos, o aparecimento de rugas e o surgimento de manchas na pele.
A exposição excessiva aos raios solares, à poluição ambiental e hábitos como o tabagismo aceleram o processo, por meio da produção na pele de enzimas como a elastase e a colagenase, responsáveis pela degradação dos principais componentes da matriz extracelular cutânea: a elastina e o colágeno.
O estudo também demonstrou a presença de epicatecina e catecina nos extratos. Trata-se de dois polifenóis com ação reconhecidamente inibidora da tirosinase.
Os pesquisadores observaram no extrato de jucá uma ação importante e segura, tanto clareadora como despigmentante. “Ele tem grande potencial e poderá vir a ser usado em cremes com ação antienvelhecimento”, disse Maria-Engler.
O jucá é uma árvore nativa do Brasil, amplamente distribuída nas regiões Norte e Nordeste. As amostras utilizadas no estudo foram fornecidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e identificadas no herbário da instituição.
Patente
Um dos alvos prioritários da indústria de cosméticos é descobrir ou desenvolver novos antioxidantes. Uma vantagem no uso de produtos naturais reside na sua eficácia e segurança com relação aos antioxidantes sintéticos.
Ainda não existe pedido de patente sobre os compostos antioxidantes encontrados no jucá. Isso porque a condição necessária para patentear é isolar os princípios ativos responsáveis pela nova terapia. “Esse é o próximo passo da pesquisa. Apenas quando obtivermos essas substâncias isoladas é que será possível requerer uma patente”, disse Pedrosa.
A pesquisa foi realizada no laboratório dirigido por Maria-Engler, especializado no cultivo de pele artificial. “A FAPESP é responsável por 90% das verbas para a montagem do laboratório, incluindo cromatógrafo e espectrômetro que usamos no estudo”, disse a professora.
O estudo também teve apoio da Capes por meio do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica.