Espaço, a Fronteira Final?
Este ano marcou o 40o aniversário de dois eventos relevantes da exploração do espaço. Um deles, odesembarque da Apollo 11 na Lua, em 20 de julho de 1969, foi um marco da conquista tecnológica. O outro, a primeira exibição completa no notável filme de Stanley Kubrick, 2001: Uma odisseia no espaço, a deslumbrante interpretação das concepções de Arthur C. Clarke sobre o homem viajando pelo espaço sem volta.
Boa parte do material sobre esses eventos notou a enorme diferença entre a realidade – o homem não pisa na Lua desde dezembro de 1972 – e as ideias de Clarke. Artigos também questionaram até que ponto nosso país está de fato compromissado em gastar US$ 200 bilhões ou mais para voltar à Lua daqui a dez anos e depois disso, talvez, gastar ainda mais dinheiro para enviar homens a Marte.
Aos 15 anos, fiquei encantado coma chegada à Lua. Mapeei todas as missões Apollo, construí modelos em escala e sonhei em ser o primeiro astronauta canadense. Viagens humanas sempre prometeram impulsionar a ciência. Desde então, porém, mudou minha visão sobre o papel dos seres humanos na exploração do espaço. Eu ainda agarraria uma chance de ir para o espaço.
Mas hoje admito, como testemunhei no Congresso quase uma década atrás (coincidentemente, ao lado de Buzz Aldrin, da Apollo 11), que faria isso por diversão e não pelo avanço da ciência. O conhecimento científico mais interessante sobre o Universo deverá ser obtido por meio de naves espaciais não tripuladas, de robôs e muito menos dinheiro do que o necessário para tirar o homem da órbita terrestre.
Voos tripulados se mostraram extremamente caros e muito mais perigosos do que o programa Apollo nos levou a crer. Além disso, as dificuldades adicionais são muito mais mundanas do que sugerem a TV e os fi lmes de fi cção científi ca. Não estamos parados por falta de força propulsora, embora os custos de combustível sejam um motivo para que os voos não tripulados sejam tão mais baratos; missões com seres humanos requerem uma parafernália para mantê-los vivos. O maior obstáculo para visitar Marte é a radiação cósmica. Durante os 18 meses ou mais necessários para essa missão, provavelmente os astronautas se exporiam a uma dose letal de radiação.
Nosso destino supremo talvez esteja nas estrelas, mas as limitações impostas pela física e por nossa biologia indicam que esse futuro deve se reservar às nossas crias mecânicas – os robôs – ou talvez aos computadores capazes de replicar vida orgânica em longas distâncias.
No curto prazo, podemos ainda ansiar por aventura e desejar, apesar dos custos enormes, colonizar a Lua e talvez Marte. Não me oponho a enviar homens ao espaço pela razão financeira. Mas deveríamos separar o financiamento da ciência do diversionismo causado por um programa espacial caríssimo. Também não deveríamos gastar fortunas em programas ineficientes como a Estação Espacial Internacional, de US$ 100 bilhões, que supostamente deveria fornecer informação científica mais abrangente do que como vivem os seres humanos a 320 km da Terra
por períodos prolongados.
O programa Apollo nos ensinou que vamos encarar dificuldades tecnológicas ainda maiores se a nação se concentrar em resolvêlos a um alto custo. Enfrentamos agora muitos desafios, das mudanças climáticas à independência energética, com os quais teremos de lidar mesmo premidos por nossa fome de viajar pelo espaço.
Não acredito que se trate de um jogo de soma zero. Talvez haja dinheiro para tudo isso: enviar homens ao espaço, praticar a melhor ciência fundamental possível e também enfrentar os problemas prementes aqui na Terra. Mas só o faremos se formos honestos em relação aos custos, e possíveis benefícios, da ciência para a humanidade. E não podemos fi ngir que uma base na Lua ou em Marte seja a panaceia para qualquer de nossos problemas cá embaixo.