Bico, para que te quero?

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Por Ivanildo Santos 3 de agosto de 2009

O bico do tucano, responsável por um terço do seu tamanho, é o maior dentre todas as espécies de aves. Cientistas já haviam constatado que ele é usado para funções como descascar frutas ou atrair companheiros. Agora, três pesquisadores acabam de identificar uma nova função para essa estrutura: auxiliar na regulação da temperatura corporal da ave. Tucano1

A conclusão foi feita em um estudo realizado com a maior e mais emblemática das espécies de tucano: o tucano-toco (Ramphastos toco). Os pesquisadores constataram que, quando comparado à dimensão total da ave, o bico dessa espécie constitui a maior estrutura corporal destinada à troca de calor com o meio externo de todo o reino animal. Com isso, ele supera outras estruturas de tamanho considerável conhecidas por atuar no controle térmico, como a orelha do elefante.

A novidade foi relatada em um artigo publicado na Science desta semana, assinado pelos biólogos Denis Andrade e Augusto Abe, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Rio Claro, e Glenn Tattersall, da Universidade de Brock, em Ontário (Canadá).

Denis Andrade conta que a regulação térmica da ave estudada depende de uma irrigação sanguínea adequada. “Como o bico do tucano é bem vascularizado, é possível a realização da contração e dilatação desses vasos sanguíneos para regular a troca de calor”, explica o biólogo.

Ele acrescenta que, embora essa função possa não ser determinante para o tamanho do bico, ela certamente é favorecida pela superfície extensa dessa estrutura.

Câmera infravermelha

Para chegar a essa conclusão, os biólogos monitoraram várias partes do corpo de tucanos-toco com uma câmera infravermelha, que permite a obtenção de imagens detalhadas da temperatura superficial dos animais.

Eles observaram que a temperatura variou sutilmente em função da temperatura ambiente na parte lombar dos tucanos, coberta de penas, e permaneceu constante na região próxima aos olhos. Já no bico, as temperaturas foram mais variáveis e controladas de forma a regular a quantidade de calor que era perdida através de sua superfície. Tucano2

“Quando a temperatura do ambiente cai, ocorre um processo de contração dos vasos sanguíneos presentes no bico, o que impede a perda de calor”, explica Denis Andrade. “Já em temperaturas mais elevadas, o processo é contrário. Os vasos se dilatam e permitem a perda de calor.”

As mudanças térmicas na superfície do bico são rápidas e acontecem também durante o voo e outras atividades. Nessa situação, a produção metabólica de calor é maior. O bico, então, fica mais quente e o calor produzido pelo corpo durante o exercício é dissipado através dele.

Já enquanto se prepara para dormir, o tucano usa o bico para perder calor, uma vez que a temperatura corporal é reduzida durante o sono.

O próximo passo da pesquisa é investigar se esse mecanismo de controle da temperatura corpórea também ocorre em outras espécies de aves. “Suspeitamos que o bico tenha essa função na maioria das aves”, afirma Andrade. “No caso do tucano, porém, ela se torna mais relevante devido ao enorme tamanho do bico.”