Azulejaria de São Luís vira tema de pesquisa
Projeto coordenado por professora do IFMA visa utilizar as peças coloniais como referências na área do design
A capital maranhense é reconhecida pela riqueza do acervo arquitetônico que se concentra no Centro Histórico, de origem, sobretudo, portuguesa. Nesse conjunto há destaque para os azulejos, que enfeitam os casarões e chamam a atenção pela variedade de cores e formatos. Objetos permanentes de curiosidade de maranhenses e, sobretudo, de turistas, essas peças de acabamento se tornaram alvo do projeto Padrões gráficos da azulejaria colonial do conjunto arquitetônico do Centro Histórico de São Luís: história, identidade e cultura visual, coordenado pela professora do curso de Design do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), Camila Andrade dos Santos.
A pesquisa é amparada pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), por meio do edital Prociência, que tem por objetivo apoiar a participação de professores e estudantes de escolas públicas da educação básica, em projetos de pesquisa científica e tecnológica, a serem desenvolvidos nas instituições de ensino. Segundo Camila Andrade, a importância dos Padrões gráficos da azulejaria colonial do conjunto arquitetônico do Centro Histórico de São Luís está relacionada, dentre outras coisas, com seu caráter de valorização e divulgação desse patrimônio. “A união da comunicação visual com o Design e a antropologia no estudo dos padrões gráficos encontrados nesses azulejos, tanto do ponto de vista gráfico, como do intangível, mostrando sua importância para cada uma destas disciplinas e disponibilizar o uso para a sociedade, é de extrema importância”, destaca.
Camila Andrade dos Santos diz que os azulejos do Centro Histórico formam uma estética, isoladamente, e em conjunto formam um padrão visual, com suas várias estruturações gráficas e texturas visuais, que se encontram nos prédios, nos gradis, nas fachadas dos casarões, no calçamento e em alguns adornos de praças. “Daí o objetivo é estudar esses fatores, registrar e transformar em imagens vetoriais, o que significa disponibilizar os ‘desenhos’ em softwares, ou seja, em imagens digitais, para que possam ser utilizados em materiais gráficos de divulgação, de sinalização, em roupas e de diversas outras formas”, explica.
Etapas – Muitos estudos são realizados para o registro e valorização de elementos gráficos pelo mundo. Para este estudo, os pesquisadores focaram na azulejaria. “Na parte teórica citamos alguns exemplos de padrões, desde pinturas corporais, como as dos indígenas, para mostrar que eles estão presentes no cotidiano em vários locais e exercendo diversas funções”, esclarece Camila Andrade.
Na pesquisa, o ponto de partida foi a cultura visual e vernacular do Centro Histórico de São Luís, com a intenção de mostrar a importância que os elementos visuais possuem na cultura local. A pesquisadora acrescenta que os trabalhos que estão sendo realizados produzirão, também, uma teoria sobre a relação ludovicense versus cultura local e turistas versus cultura local, além das imagens vetoriais, que serão disponibilizadas gratuitamente, de forma online. “Iremos considerar a história do local, de onde eles estão, de onde eles partem, de onde saíram, o que eles significam, pois sabemos que cada azulejo de São Luís tem uma história, um contexto, é oriundo de um país”, explica Camila.
A parte preliminar da pesquisa é o levantamento da bibliografia sobre comunicação visual, sobre o Centro Histórico de São Luís, sobre azulejaria, dentre outros assuntos relacionados ao tema central, para que se entenda melhor o contexto da azulejaria. “Estamos nessa etapa ao mesmo tempo em que já começamos as pesquisas de campo, o que estamos fazendo com outros professores e alunos de outros projetos semelhantes de iniciação científica que estão sendo desenvolvidos no IFMA”, conta Camila Andrade dos Santos. A professora explica que, em campo, estão sendo realizadas entrevistas abertas com pesquisadores e pessoas que frequentam o local, “pois parte do projeto que busca entender a função do patrimônio histórico e a representatividade desse patrimônio para as pessoas”, acrescenta a pesquisadora.
Não há um número definido de visitas a campo. Camila esclarece que isso vai depender da quantidade de material que a equipe for conseguindo coletar. Também não foi fechada a quantidade de arquivos vetoriais que será gerada ao fim dos trabalhos. “Só com o contato direto é que poderemos identificar quais são os azulejos que podem ser vetorizados, pois nem todos, formalmente falando, são de fácil reprodução”, justifica.
Um dos locais visitados durante a etapa preliminar foi o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Maranhão (Iphan-MA), onde, segundo Camila Andrade, foram obtidas algumas publicações impressas e digitais sobre o assunto, que, conta a professora, é uma pesquisa prévia sobre o que a pesquisa do IFMA pretende alcançar. “Há o registro visual e a localização dos azulejos, pois dentro do enorme conjunto arquitetônico de São Luís temos vários locais e cada local tem uma origem diferente, uma história”, explica.
Equipe – Para realizar as pesquisas e gerar os resultados, Camila Andrade dos Santos conta com a participação do aluno João Matheus Câmara, do curso técnico em Comunicação Visual. A função dele, além de coletar dados de campo, é trabalhar com a vetorização das imagens, a partir do registro visual fotográfico. Trata-se da parte mais técnica do Projeto. “Ele foi escolhido exatamente por ter facilidade em trabalhar no software ilustrador, que é o programa utilizado para a transformação de imagens em vetores”, revela a professora.
João Matheus Câmara diz que se interessou pelo projeto pelo viés cultural que ele possui, bem como pela oportunidade do ensino que vai além da sala de aula. Conta que atua no subprojeto Registro visual e vetorização dos padrões gráficos da azulejaria colonial do conjunto arquitetônico do Centro Histórico de São Luís fazendo o levantamento da importância histórica que possui o conjunto de azulejos da capital. “A partir daí, fotografar e vetorizar os azulejos, de modo a disponibilizar os arquivos, para que possam ser utilizados nas mais diversas aplicações, ou seja, os azulejos tomarão forma virtual e terão alcance maior”, explica.
Camila Andrade dos Santos conta que a equipe tem até novembro deste ano para encerrar as atividades, entregar o relatório final para a Fapema e disponibilizar os arquivos ao público. “Essa disponibilização será feita pela internet. Possivelmente entregaremos o relatório final com uma mídia contendo todos os arquivos que foram digitalizados”, finaliza Camila