As relações afetivas e a transformação do dote são tema de estudo em História Social

amor-cortes iluminura-3
Por Ivanildo Santos 11 de junho de 2013

amor-cortes iluminura-3

É namoro ou amizade? Vai dar namoro? Essas são algumas perguntas que fazem parte do universo dos programas televisivos brasileiros que propõem formar casais, dando aquele empurrãozinho para um novo relacionamento e quem sabe um grande amor. Mas no século XIX, as possíveis relações afetivas começavam por outros interesses que não os de beleza estética ou de atração.

Os atributos desse período para arranjar noivos foram verificados pela doutora em História Social, Elizabeth Sousa Abrantes, que revelou no livro “O dote é a moça educada” a transformação do dote e as relações de interesse das famílias da elite em São Luís, no período colonial.

Em “O dote é a moça educada”, apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA, por meio do edital de apoio a publicação (APUB), a historiadora conta como há algumas décadas, os próprios pais arranjavam pretendentes para os filhos sem que esses pudessem escolher com quem queriam se casar. Isso tudo baseado nas condições financeiras de famílias de uma mesma classe social. A família da noiva oferecia uma espécie de herança, ou seja, o dote para o noivo. “O dote era uma espécie de antecipação da herança a que a noiva teria direito. Esses bens materiais poderiam ser dinheiro, terras, escravos, roupas e joias. E com o passar do tempo houve um novo significado para o dote, deixando de ser um bem material e passando a ter um valor cultural”, afirmou a doutora em História Social.

A pesquisa trata da educação feminina no início da Primeira República, em 1890. Nesse período, o dote era um costume de transmissão de bens em que a noiva levava um bem material para o casamento. Mas no início do século XX, as famílias das moças começavam a deixar esse costume de doar bens materiais para as filhas e passaram a investir na educação das moças, porque se começou a entender que o conhecimento é o dote mais valioso, chamado também de dote cultural ou simbólico.

“O aprendizado serviria agora para atender a uma necessidade de trabalho, caso não viessem a se casar ou ficassem viúvas, e principalmente para as mulheres das camadas médias, esse dote do conhecimento, a educação, ajudaria as moças a ter um bom casamento, um bom partido”, explicou Elizabeth Abrantes.

Segundo a pesquisadora, o trabalho é observado dentro da perspectiva da história cultural, onde foram analisados vários documentos antigos. ”Do ponto de vista das fontes utilizei um acervo bem diversificado, como testamentos, literatura ficcional, romances, contos, jornais. Mas diria que minhas principais fontes foram os testamentos e a literatura. Temos um acervo de testamentos do século XVIII que estão publicados em um livro maranhense e os testamentos do XIX e XX estão disponíveis no arquivo do Tribunal de Justiça do Maranhão”, disse.

No período colonial, geralmente, os noivos se conheciam no casamento. Com o decorrer do tempo, principalmente no século XIX, essa fase do namoro começou a ser mais aceita, e é nesta época que começa a nascer o flerte, algo mais sutil que a paquera dos dias atuais. “O flertar seria quase como o ficar hoje, mas nessa virada de século o flertar poderia significar mais no olhar, no aperto de mão, é mais a sensação de se apresentar para outra pessoa que você tem o interesse” comentou Abrantes.

Essa matéria também está disponível no Rádio Inovação.