Amazônia ganha Rede de Pesquisa e Desenvolvimento em Biocosméticos
A Amazônia está dando mais um passo para mudar o comportamento histórico da região de ser apenas um fornecedor de matéria prima para empreendedores estrangeiros que a levam para agregar tecnologia e dar valor a produtos que depois voltam para o Brasil a custos altíssimos. Foi lançada em Belém, quinta-feira passada, a Rede de Pesquisa e Desenvolvimento de Biocosméticos (Redebio). A reunião aconteceu no Hilton Hotel, com a presença dos representantes das fundações de amparo à pesquisa do Pará, Amazonas, Maranhão, Acre e das Secretarias de Ciência e Tecnologia do Tocantins, Pará e Amazonas. O encontro contou ainda com a participação de pesquisadores e cientistas com atuação na Amazônia. O primeiro edital da RedeBio já estará disponível no site da Fapespa e demais instituições envolvidas, a partir do dia 11 de maio.
Nos próximos três anos, a RedeBio contará, com R$ 6,3 milhões para investimentos em pesquisas de produtos da região. Os recursos são das fundações Pará (R$ 2,1 milhões), Amazonas (R$ 2,1 milhões) e Maranhão (R$ 1,2 milhões), do Acre (R$ 300 mil) e da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Tocantins (R$ 600 mil).
Com a expectativa de abrir caminhos para a competitividade no setor de biocosméticos nestas regiões, a RedeBio é considerada inovadora em vários sentidos. É uma iniciativa de parceiros, que se empenharam para juntar recursos e competência; já há sinalização para articulação de um segundo edital que virá complementar as necessidades que vão surgir a partir deste primeiro; é uma iniciativa que parte da própria região, sendo o modelo de redes de pesquisa, algo inovador no Brasil.
“Espero que esta ação, seja caminho para outras semelhantes principalmente envolvendo Pará e Amazonas, responsáveis também pela articulação da Rede Malária”, disse o presidente da Fap do Amazonas, Odenildo Sena.
Embora a Rede esteja focando neste primeiro edital, uma ação mais voltada à academia, na aquisição de conhecimento e aplicação de pesquisas dentro de instituições, há também um foco muito grande nas cadeias produtivas, uma vez que as linhas de pesquisa se voltarão à cadeia produtiva da andiroba, copaíba, castanha do Pará e babaçu.
De acordo com o presidente da Fap do Pará, Ubiratan de Holanda Bezerra, existe a necessidade de transferir isso para as micros, pequenas e médias empresas, que estão no mercado e já mexem com estas cadeias, mas ainda de forma pouco competitiva.
“É aí que entra o segundo momento que é fundamental e inovador desta rede. Já estamos negociando o lançamento de um segundo edital focado na transferência de tecnologia e agregando as empresas destes segmentos”, explica.
Funcionamento da rede – Para que a rede funcione bem, cada projeto, para ser apreciado, precisa ter obrigatoriamente, pelo menos três dos estados que compõe a rede. Ou seja, para um pesquisador do Pará apresentar um projeto, ele precisa estar articulado com pesquisadores de mais dois estados da Rede, no caso Tocantins, Amazonas, Acre e Maranhão. O objetivo é ter um trabalho integrado, onde cada parte participe com a competência maior que tiver e assim contribuir também para a troca de experiência entre os estados envolvidos.
“É muito importante trabalhar em rede, não só para a Fap do Maranhão, mas para o estado como todo, na medida em que temos a possibilidade de somarmos competência e não só olharmos para a biodiversidade da nossa região como um potencial, mas buscando o melhor emprego dela. Também acredito que este seja o caminho mais curto para fazer com que estes estados possam corrigir ou pelo menos trabalhar para reduzir estas assimetrias sociais que existem de fato”, disse Rosane Nassar Meireles Guerra, da Fap do Maranhão.
Fator social – A RedeBio traz ainda um viés social importante. “As cadeias produtivas da andiroba, da copaíba, da castanha e do babaçu, por exemplo, tem muito haver com as comunidades tradicionais. Estas possuem uma deficiência na parte comercial, pois quando você quer transformar uma matéria prima em produto competitivo, você tem que ter algo que o certifique e isso o edital está prevendo, como a parte agronômica da coleta, transferência de conhecimento e agregação de conhecimento na parte inicial do processo de extração. Tudo isso vai ser reflexo social positivo paras comunidades”, reforça Holanda.
“Estou vendo muitos diferenciais nesta rede, a questão do envolvimento lá na frente com o setor produtivo, vai colocar frente a frente pesquisador e empresário. O pesquisador interessado em criar a inovação e o empresário interessado em colocar aquele produto no mercado, o que estabelece em conseqüência toda uma rede de coisas boas, pois alavanca a economia e a gera emprego e renda”, diz Odenildo.
A região Amazônica vive um momento único de sua história. Com a RedeBio e a Rede Malária, a região dá um salto no setor de ciência e tecnologia, trazendo reconhecimento nacional e produzindo exemplos de como trabalhar em conjunto num país de dimensões enormes, explorando a biodiversidade da região, mas com a sustentabilidade necessária para valorizar toda uma cadeia produtiva.
Parcerias – O diretor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Secretaria de C&T do Tocantins, Alan Rickson Andrade de Araújo, acredita na rede. “A possibilidade de colocarmos os nossos pesquisadores em laboratórios de ponta que existem em estados mais consolidados e integrar toda a região norte que, apesar de termos já alguns estados mais desenvolvidos, é uma região que ainda carece de investimentos na área da ciência e tecnologia, é de grande valia. Isso vem provar que apesar dos poucos investimentos, os estados conseguem se mobilizar para criar uma política de ciência e tecnologia, para pesquisa e na ponta conseguir gerar o desenvolvimento econômico e social”.
Já o Estado do Acre, representado pela Diretora Técnica da Fap, Tânia Lúcia Guimarães, vê na participação da rede uma grande oportunidade de interação com pesquisadores de toda a região e também uma otimização da utilização dos recursos que hoje estão aplicados no apoio a projetos de pesquisa. “Há uma grande expectativa em função da disponibilização deste edital para elaboração das propostas. O Acre entra na rede com recursos pequenos, mas com possibilidade de crescimento e uma avaliação dos resultados para aplicar mais recursos ainda nesta área”.
Para a secretária adjunta da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Amazonas, Maria Olívia de Albuquerque R. Simão, o processo de construção dessa rede foi importante como inovação na gestão. “Reunimos vários estados da Amazônia para resolver os nossos problemas. Acredito que isso foi o mais importante, pois a problemática surgiu aqui na região e nós mesmos buscamos formas de resolver. A intervenção em rede vai permitir que estejamos potencializando competências e infraestrutra, mas acredito que este modelo deva ser replicado. Para isso, será preciso envolver não só as secretarias de Ciência e Tecnologia, mas vários outros setores do governo, pois há coisas que a outra ponta do processo governamental não sabe, então quando ele está junto vai colocando suas demandas também”, disse.
Fonte: Gabinete de Comunicação e Imagem – Fapespa