Alerta de cientistas maranhenses sobre o impacto climático dos manguezais é destaque internacional

Por Laércio Marques 11 de abril de 2022

O manguezal é um ecossistema único que consiste em uma transição entre o ambiente aquático e terrestre. O solo lamacento característico deste bioma é o berço de uma complexa cadeia alimentar, além de servir como repositório de matéria orgânica e realizar a filtragem de poluentes. O Brasil possui a segunda maior área de manguezal de todo o mundo (e a maior área contínua), e a maior parte desta área fica no Estado do Maranhão, o que possibilitou que vários cientistas do estado realizassem pesquisas que apontassem a grande importância ecológica deste ecossistema.

Recentemente, um grupo de cientistas composto por integrantes de todas as Universidades do Maranhão (UFMA, UEMA, UEMASul, UniCEUMA e IFMA) além de outras Instituições de Pesquisa de fora do Estado, publicou uma carta em uma das revistas científicas mais renomadas do mundo: a revista Science. No texto, os pesquisadores ressaltam a capacidade do manguezal em armazenar CO2 (principal gás responsável pelo efeito estufa) e mitigar os efeitos do aquecimento global. Segundo os cientistas, a lama e a vegetação deste bioma tem até 10 vezes mais capacidade de “sequestrar” o carbono que iria para a atmosfera, e só a área brasileira é responsável por armazenar até 8% de todo o CO2 do planeta

Essa capacidade de combater o efeito estufa faz com que a preservação do manguezal seja uma prioridade de interesse público. Na carta, os pesquisadores também expõem a sua preocupação acerca das mudanças na legislação que garantia a proteção ambiental das vegetações nativas: em 2021, o STF (Supremo Tribunal Federal) julgou inconstitucional a resolução de 2020 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), reduzindo a proteção legal do ecossistema. Para o grupo de pesquisadores, é fundamental que exista um programa de proteção governamental dos manguezais, que fiscalize e evite o desmatamento, inclusive com o uso de força policial. Na carta, também é sugerida a implantação de um programa oficial de monitoramento contínuo das áreas de manguezal, semelhante ao que já acontece com a Amazônia e o Cerrado: “o manguezal é uma área de preservação permanente, isso quer dizer que ele tem que ser deixado intacto para que ele possa prestar todos os seus serviços e bens, não só para a sociedade humana , como também para a região costeira como um todo” explica Denilson, pesquisador titular por trás do documento.

O primeiro autor da carta é Denilson da Silva Bezerra, pesquisador do Departamento de Oceanografia e Limnologia da UFMA e consultor Ad Hoc da Fapema. Denilson possui Graduação em Ciências Aquáticas (UFMA-2005), especialização em Recuperação de Áreas Degradadas (UEMA- 2008), Mestrado em Saúde e Ambiente (UFMA-2008) e Doutor em Ciência do sistema Terrestre pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Além de consultor da Fapema, Denilson também já participou de diversos editais , sendo inclusive um dos premiados na edição 2017 do Prêmio Fapema.