Rede mobiliza população no controle da dengue em escolas de Manguinhos

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Por Ivanildo Santos 7 de outubro de 2009

Desde 2008, com o objetivo de auxiliar as ações do estado e do município do Rio de Janeiro, diversas unidades da Fiocruz intensificaram a realização de atividades de promoção, prevenção, educação, assistência e diagnóstico para o enfrentamento da dengue. No início deste ano, a instituição resolveu integrar todas essas ações com a finalidade de aumentar ainda mais o controle da doença nas comunidades de Manguinhos, bairro da Zona Norte do Rio onde está localizada a sede da Fundação. Esta medida deu origem a Rede de Ações Integradas de Atenção à Saúde no Controle da Dengue ou, simplesmente, Rede Dengue Fiocruz, projeto fomentado pela Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fundação.1escola_manguinhos

A rede reúne vários projetos, como o Programa de Controle da Dengue em Manguinhos (PCDM), que tem diferentes metas, entre elas: construir estratégias de monitoramento e controle do Aedes aegypti a partir do conhecimento da ecologia do mosquito e da utilização de armadilhas; correlacionar as condições de saneamento ambiental com a contenção da dengue; transformar informações em ações efetivas para o enfrentamento da doença, considerando a participação popular; e contribuir para a orientação do desenvolvimento de políticas públicas com base no conhecimento adquirido em campo. Agora no início de outubro, o PCDM promove o Ação nas escolas, iniciativa que visa tanto monitorar o desenvolvimento de macrocriadouros do vetor da dengue no âmbito escolar quanto mobilizar professores, pais e, principalmente, alunos para a importância do combate às condições que favorecem o aparecimento da doença.

“A proposta é disponibilizar informações sobre a dinâmica da dengue mediante atividades lúdico-científicas e estimular nas crianças a construção de conhecimentos sobre saúde, saneamento e ecologia”, explica uma das organizadoras do projeto, Cristina Barros, que faz parte da Coordenadoria de Cooperação Social da Fiocruz. “Consideramos que é extremamente importante esse envolvimento da população escolar no processo de controle da dengue, pois juntos construímos saberes e práticas para o dia-a-dia”.2escola_manguinhos

O início das atividades do projeto este ano ocorreu na Escola Albina Souza Cruz, localizada em Manguinhos: durante dois dias, os participantes do projeto instruíram cerca de 380 crianças sobre a doença, o mosquito transmissor e as formas de prevenção. O primeiro dia foi dedicado a ação chamada de Brigadinha, na qual agentes de endemia da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, em companhia dos estudantes, buscaram possíveis focos do vetor no ambiente escolar, orientando-os sobre como isso pode ser feito por eles mesmos não só na escola, mas também na comunidade onde moram.

“Entusiasmadas com uma atividade diferente em seu cotidiano, as crianças aprendem com facilidade e, após, ao contarem para os pais como foi a experiência, se tornam multiplicadoras das informações, o que ajuda e muito na luta contra a doença”, diz a coordenadora executiva do Ação nas escolas, Mayalu Matos Silva, da Coordenação de Projetos Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). “Estamos tentando efetuar essas ações no período próximo ao verão, quando o mosquito costuma se reproduzir em maior quantidade, e não encontramos nenhum criadouro de vetores na Escola Albina, um resultado muito importante”.

O segundo dia foi composto por três atividades diferentes. Primeiramente, os estudantes assistiram ao filme O mundo macro e micro do mosquito Aedes aegypti – para combatê-lo é preciso conhecê-lo. Premiada no Festival de Cinema e Vídeo Científico MIF-Sciences 2006, em Havana (Cuba), a obra foi produzida por Genilton Vieira, pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e traz imagens reais das diversas fases de transformação do vetor: o ovo, a fase larvária, a diferenciação entre larva e pupa e a emergência do mosquito adulto. Além disso, ela mostra imagens digitalizadas e que exemplificam o processo de cópula e postura de ovos pela fêmea do inseto.

Logo após, o grupo de teatro Dentro da vida, organizado por servidores do Centro de Saúde da Ensp, por agentes de saúde e moradores das comunidades de Manguinhos, apresentou uma peça sobre como o mosquito da dengue pode estar presente no cotidiano dos alunos e como sua proliferação pode ser evitada. “Procuramos realizar uma apresentação cômica para as crianças assimilarem melhor a importância de cuidar do ambiente em que se vive, conscientizando não só os amigos como também os vizinhos, por exemplo, de que não se deve jogar lixo no chão e de que é preciso ficar atento à água parada”, diz Cristiane, uma das atrizes participantes e moradora de uma das comunidades da região. “O teatro sensibiliza as crianças, que, desinibidas, interagem, fazem perguntas e, muitas vezes, até fornecem depoimentos emocionantes sobre suas árduas experiências com a doença”.

A terceira e última atividade consistiu na visualização das diversas formas do vetor da dengue em um mini laboratório montado por técnicos do Núcleo de Apoio às Pesquisas em Vetores (NAPVE) do IOC em parceria com a União Defensora do Meio Ambiente (Uadema) e a Diretoria de Administração do3escola_manguinhos Campus (Dirac/Fiocruz). “Os estudantes podem identificar, a partir de microscópios, as diversas etapas de crescimento do mosquito da dengue, da fase larvária à eclosão, concretizando o conhecimento que obtiveram antes de forma mais abstrata”, destaca o técnico Célio Pinel. “Além disso, tentamos explicar como são feitas as pesquisas relativas ao monitoramento do mosquito e como são construídas as armadilhas para sua captura e posterior análise em laboratório”.

Segundo a professora Jaqueline, responsável pela sala de leitura onde ocorreram as atividades, o trabalho realizado por essa parte da equipe da Rede Dengue Fiocruz, que conta com o apoio da União Defensora do Meio Ambiente (Uadema), é de extrema importância para o aprendizado. “As crianças participam animadas e vivenciam de forma rica o que o professor tenta esclarecer em sala de aula”, comenta a docente. “E, ao mesmo tempo em que elas aprendem, os próprios professores também adquirem informações devido a um conhecimento mais específico que essas ações proporcionam”.

O próximo passo do Ação nas escolas é visitar, em dezembro, a Escola Municipal Prof. Maria Cerqueira Silva, onde os organizadores do projeto pretendem atingir cerca de mil estudantes do ensino fundamental. “A iniciativa também tem parceria com o Projeto Tecendo Redes, do Museu da Vida, o que permite oferecermos subsídios para que as crianças das escolas visitadas respondam à questão: como a ciência produzida pela Fiocruz pode melhorar a vida em Manguinhos?”, afirma a coordenadora Mayalu Matos Silva.