Metodologia computacional é desenvolvida para diagnóstico do estrabismo

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Por Ivanildo Santos 17 de março de 2015

06-estrabismo-stock-photo-18004835-little-girl-with-amblyopia-illnessO estrabismo é uma patologia que afeta cerca de 4% da população, provocando problemas estéticos, reversíveis a qualquer idade, e alterações sensoriais irreversíveis, modificando o mecanismo da visão. Sistemas de Detecção e Diagnóstico auxiliados por computador estão sendo usados com relativo sucesso no auxílio aos profissionais de saúde. No entanto, o emprego cada vez mais rotineiro de recursos de alta tecnologia, no auxílio diagnóstico e terapêutico em oftalmologia, não é uma realidade dentro da subespecialidade estrabismo.

Atento a esta problemática, o professor doutor João Dallyson Sousa de Almeida, do Núcleo de Computação Aplicada da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), está coordenando a pesquisa “Metodologia computacional para detecção e diagnóstico automáticos de estrabismo baseado nos testes de Hirschberg e de Cover”. “Esse trabalho visa desenvolver uma metodologia para detecção e diagnóstico automáticos do estrabismo usando fotografias e vídeos digitais de faces”, explica o pesquisador, que, para o desenvolvimento do estudo, recebe o apoio da FAPEMA, por meio do edital Universal (nº 01/2014).

Estrabismo, ou vesgueira, é uma anomalia dos olhos em que eles perdem o paralelismo entre si. Enquanto um olho fixa um ponto frontal, o outro se volta para um dos lados ou mesmo para cima ou para baixo. Dessa forma, o cérebro recebe duas imagens com focos diferentes, em vez de duas imagens que se fundem numa única. “Do estrabismo pode advir uma das formas de ambliopia, uma disfunção oftálmica caracterizada pela redução ou perda da visão num dos olhos, ou mais raramente em ambos, sem que o olho afetado mostre qualquer anomalia estrutural. A falta de tratamento da ambliopia pode acarretar baixo rendimento escolar, com dificuldade no aprendizado e, por conseguinte, pode contribuir para a formação de uma baixa autoestima”, esclarece João Almeida.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada cinco segundos uma pessoa fica cega no mundo, e a cada minuto uma criança fica cega. O custo econômico da cegueira no mundo é estimado em US$ 28 bilhões por ano. “Entre 60 e 75% dos casos de cegueira e baixa de visão são evitáveis e/ou curáveis. O tratamento precoce do estrabismo evita a diminuição da visão e até mesmo a cegueira legal do olho amblíope”, afirma o pesquisador.

Para diagnosticar o estrabismo, são realizados exames de acuidade visual, fundo de olho ou fundoscopia, verificação externa dos olhos e exame de motilidade realizado através do Cover Test e do teste de Hirschberg, que consiste basicamente em incidir um pequeno foco de luz para dentro dos olhos do paciente observando se o reflexo em cada olho está localizado no mesmo lugar em cada uma das córneas.

Além desses exames, existem aparelhos denominados de sinoptóforos eletrônicos que medem o estrabismo através da projeção de duas imagens separadas e dissimilares na mesma posição do espaço. “Diferentemente dos equipamentos utilizados atualmente nos consultórios oftalmológicos, este estudo visa desenvolver uma maneira fácil, ágil e menos onerosa de se avaliar de forma automatizada o risco de um paciente ter estrabismo e indicar o diagnóstico. Busca-se, ainda, que esse método seja acessível a oftalmologistas generalistas ou não subespecializados em estrabismo”, diz.

Dados mundiais a respeito da prevalência e incidência da cegueira e visão subnormal evidenciam que 20% das crianças em idade escolar apresentam alguma perturbação oftalmológica. Dentre estas perturbações, o tratamento do estrabismo congênito constitui um problema particularmente grave de saúde pública, pois uma criança não tratada precocemente fica não só com os olhos desalinhados, mas também tornar-se-á um adulto portador de um tipo especial de cegueira, em um ou ambos os olhos.

Segundo o pesquisador, a adoção desta metodologia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), aplicada ao Programa de Saúde na Escola (PSE) e/ou ao Programa de Saúde da Família (PSF), viabilizaria atingir a melhor fase para realizar o tratamento do estrabismo, que é até os sete anos de idade, quando o desenvolvimento ainda não está consolidado. Após esta fase, os tratamentos não costumam obter o sucesso possível e desejado. As metas do tratamento do estrabismo são: preservar a visão, alinhar os olhos e restaurar a visão binocular.

“Além da aplicação da metodologia na detecção precoce do estrabismoem regiões onde geralmente não conta com um serviço de especialistas da área da oftalmologia, a solução proposta é relevante, ainda, no auxílio dos especialistas na realização do diagnóstico. Poderá ser utilizada em consultórios públicos especializados em oftalmologia, substituindo equipamentos caros, de manuseio complexo e que demandam espaço físico. A utilização da técnica representaria, assim, uma melhor gestão dos recursos públicos aplicados na área da saúde”, completa o pesquisador.

A metodologia proposta está organizada em seis fases: segmentação da face; localização da região dos olhos; localização dos olhos; localização do limbo e do brilho; detecção; e diagnóstico.“Para detecção e diagnóstico automáticos do estrabismo, estão sendo utilizados dispositivos móveis baseados em Android, como smartphones e tablets. O método tem alcançado resultados de 97% de acerto na detecção do estrabismo e cerca de 82% no diagnóstico do estrabismo em testes iniciais realizados em 45 pacientes. Para aumentar a confiança nos resultados, há de se ampliar a base de pacientes, além de confrontar o diagnóstico fornecido pelo método com outros especialistas”, finaliza João Dallyson Sousa de Almeida.