Ministro anuncia bolsas do CNPq para pesquisadores do projeto Sirius
O ministro da Ciência Tecnologia e Inovação, Clelio Campolina Diniz, anunciou nesta sexta-feira (19), em Campinas (SP), a concessão de 100 bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/MCTI) para pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM).
“As bolsas, de doutorado e pós-doutorado, são para qualificar pesquisadores na utilização de fontes de luz síncrotron de terceira e quarta geração, no desenvolvimento de tecnologias críticas e na construção desse novo anel”, detalhou Campolina, durante a cerimônia de assinatura do contrato de construção do prédio do projeto Sirius, nova fonte de luz síncrotron brasileira. “O projeto vai ocorrer ao longo de vários anos e nós precisamos capacitar pessoas. É uma aposta científica permanente, para a qual, portanto, temos que estar atualizados.”
Segundo o presidente do CNPq, Glaucius Oliva, a ideia é repetir a trajetória em torno da construção do anel UVX, única fonte de luz síncrotron da América Latina, máquina de segunda geração operada desde 1997 pelo Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), unidade do CNPEM. “Durante dez anos, inúmeros estudantes e pesquisadores brasileiros se formaram no exterior e se qualificaram para usar essa fonte”, disse ele, em entrevista após o evento.
“Para ter melhor uso de uma infraestrutura de pesquisa você precisa de pessoas qualificadas para compreender o alto brilho dessa fonte, a natureza da radiação e como ela é produzida”, explicou Glaucius. “Esperamos motivar jovens estudantes e pesquisadores brasileiros a ir ao exterior aprender a utilização de fontes de luz síncrotron de terceira geração, para que, quando aqui chegar a de quarta geração, eles estejam prontos para utilizá-la.”
Campolina destacou que o projeto Sirius deve reforçar o “enfoque multiusuário” das políticas de apoio do governo federal a grandes ferramentas científicas. “Essa experiência que se consolida em Campinas, de um laboratório de fronteira aberto a diversas áreas do conhecimento e atividades econômicas e acadêmicas do país e do exterior, deve servir de referência para que o MCTI reestruture seus laboratórios nacionais numa perspectiva de uso compartilhado”, observou o ministro. “O descerramento hoje da pedra fundamental do Sirius tem um papel histórico, decisivo, de mudar o cenário da ciência e da tecnologia do Brasil.”
Execução
O ministro assinou um termo de compromisso com o diretor geral do CNPEM, Kleber Franchini, e o diretor do LNLS, Antonio José Roque, a fim de conjugar esforços na execução do projeto da nova fonte de luz síncrotron. Franchini e Roque ainda firmaram o contrato de construção do Sirius com o presidente da empresa responsável pela obra, Racional Engenharia, Newton Simões Filho.
De acordo com o presidente do Conselho de Administração do CNPEM, Pedro Wongtschowski, a indústria brasileira vem sendo convidada a estabelecer parcerias. “São exemplos a construção de eletroímãs e câmaras de vácuo, equipamentos eletrônicos e de mecânica de precisão. Mais de 50 empresas nacionais já se envolveram até agora na discussão dos desafios de construir os vários componentes do projeto”, destacou Wongtschowski. “É nosso desejo aplicar pelo menos dois terços dos recursos financeiros do projeto dentro do país.”
O diretor do LNLS explicou que a fonte de luz síncrotron pode ser aplicada em diversas áreas da ciência. Ele citou como exemplo uma pesquisa do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), outra unidade do CNPEM, que estuda possíveis remédios para combater a doença de Chagas, um problema endêmico de saúde para a América Latina, cujos tratamentos atuais têm baixa eficácia na fase crônica.
Conforme Roque explicou, o trabalho do LNBio precisa visualizar e compreender a estrutura atômica de uma proteína chamada quinase, para então encontrar uma molécula inibidora da doença. “A luz síncroton, neste caso, é como se fosse um gigante microscópio que permite olhar a matéria no seu nível atômico. Os pesquisadores já encontraram moléculas com uma eficiência dez vezes melhor do que os remédios que estão aí na praça. Isso ilustra a importância desse equipamento. Sem ele, você não conseguiria vencer aquele gargalo, que é a estrutura atômica dessa molécula”, destacou.
Região
O prefeito de Campinas, Jonas Donizette, classificou a assinatura do contrato como um presente de Natal para a cidade. “Temos o tamanho de uma capital, com o 10º PIB do Brasil e vários outros indicadores. Não somos uma capital estadual, mas queremos ser a capital da inovação”, disse.
Para o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Regional do estado de São Paulo, Julio Semeghini, a instalação do empreendimento em Campinas não ocorre por acaso. “A cidade tem inovação em seu DNA, é o único município paulista que possui cinco parques tecnológicos, além de sediar uma das melhores universidades da América Latina e um setor produtivo altamente sofisticado.”
Também compareceram à cerimônia o secretário executivo do MCTI, Alvaro Prata, o presidente honorário do Conselho de Administração do CNPEM, Rogério Cerqueira Leite, a pró-reitora de Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Gláucia Pastore, e o representante do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luiz Antonio Elias.