Habilidades com letras e números têm origem nos mesmos genes

Por Ivanildo Santos 9 de julho de 2014

As habilidades para matemática e para línguas são determinadas em boa medida pelos mesmos genes, segundo um estudo publicado nesta terça-feira, 8, pela Nature Communications, que destaca, no entanto, a importância do entorno para o desenvolvimento da pessoa.

Cientistas do King’s College de Londres, liderados por Roberto Plomin, utilizaram dados do chamado Estudo de desenvolvimento precoce dos gêmeos (TEDS, em inglês) para ver a influência dos genes nas habilidades de leitura e cálculo de crianças de 12 anos de 2,8 mil famílias britânicas.

A equipe acompanhou gêmeos, com genes compartilhados, e outras crianças, a quem foram aplicadas provas de compreensão oral, fluidez verbal e matemática, conforme as exigências do sistema escolar britânico.

A combinação dos resultados destas provas e dos dados de DNA indicou que há uma “sobreposição significativa” dos genes que determinam a habilidade para a língua e para os números.

Aproximadamente metade dos genes que influenciam na habilidade leitora da criança incide também em sua capacidade para a matemática, de acordo com o estudo.

A pesquisa, entretanto, destaca que o entorno familiar e a educação escolar são chaves para o desenvolvimento da criança. “As crianças se diferenciam geneticamente sobre a facilidade ou dificuldade de aprender e devemos reconhecer e respeitar essas diferenças individuais”, afirma Plomin.

Segundo o especialista, “ter encontrado esta forte influência genética não significa que não se pode fazer nada quando uma criança tem dificuldade de aprender: o fato de ser hereditário não implica que esteja gravado em uma pedra, apenas que necessitará maior esforço dos pais e das escolas para apoiar esse aluno”.

O estudo não identifica genes específicos que determinem essas habilidades, apenas estabelece conjuntos de genes ou de diferenças genéticas que individualmente contribuem em pequena medida para moldar a pessoa.

Outro autor do estudo, Oliver Davis, da University College London, destaca que a pesquisa “demonstra que grupos similares de sutis diferenças de DNA são importantes para a leitura e a matemática”.

“Entretanto, também fica claro como é importante nossa experiência de vida para que sejamos melhores em uma coisa ou em outra”, acrescenta. Para Davis, “é a complexa inter-relação entre a natureza e o entorno, à medida que crescemos, o que faz sermos quem somos”.