Terapia fonoaudiológica beneficia pessoas com sequelas de doenças infecciosas
Identificar e descrever alterações vocais e miofuncionais presentes nos pacientes com leishmaniose na sua forma mucosa e intervir com terapia fonoaudióloga para diminuir o comprometimento funcional causado pelas sequelas da doença e assim melhorar a qualidade de vida do paciente. Este é o objetivo do projeto Avaliação das alterações estomatognáticas, qualidade de vida e voz dos pacientes com a forma mucosa de leishmaniose tegumentar americana, da estudante de fonoaudiologia Elisângela Miranda dos Santos, do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz). “A forma mucosa da leishmaniose afeta faringe, boca, laringe e nariz, deixando sequelas. No entanto, não há relatos de outros centros que façam reabilitação fonoaudiológica nos pacientes portadores de doenças infecciosas”, explica a otorrinolaringologista e orientadora do projeto, que é inédito na área das doenças infecciosas do Ipec/Fiocruz, Claudia Maria Valente Rosalino.
Segundo Claudia Maria, mesmo quando o paciente é tratado a doença pode deixar sequelas como perfuração do septo nasal, que interfere diretamente na fala do indivíduo e na respiração e causa dificuldades ao engolir, necessitando reabilitação. “Com o estudo será possível avaliar a importância para o tratamento do acompanhamento fonoaudiólogo para benefício do paciente”.
A estudante Elisângela acompanhará a triagem dos pacientes coordenada pela fonoaudióloga Ana Cristina Nunes Ruas. Ela fará uma análise retrospectiva de prontuários, com finalidade de selecionar os pacientes que ficaram com sequelas e também da inserção de novos pacientes que ainda estão em tratamento medicamentoso para a leishmaniose mucosa. “Será feita uma comparação dos pacientes tratados de leishmaniose mucosa antes e após a fonoterapia, para avaliar a qualidade de vida vocal”, acrescenta Elisângela.
“A pesquisa vai durar cerca de dois anos, mas no período de um ano, ou seja, final de 2010 já teremos resultados preliminares. A ideia é fazer o acompanhamento em todas as doenças infecciosas atendidas no Ipec com comprometimento de fala, respiração e deglutição. O estudo iniciou com a dissertação de mestrado de Ana Cristina, com o mesmo objetivo, porém em pacientes de tuberculose laríngea”, afirma Claudia Maria.
Segundo Ana Cristina, em sua dissertação de mestrado Avaliação da qualidade vocal de pacientes tratados de tuberculose laríngea antes e após terapia fonoaudiológica foi verificado que 84,2% dos pacientes com tuberculose laríngea tiveram uma melhora de sua disfonia – uma sequela da doença vulgarmente conhecida como rouquidão, apresentando um aumento de qualidade vocal após a fonoterapia.
“A fonoaudiologia dispõe de recursos para avaliar, registrar e reabilitar sequelas funcionais vocais e miofuncionais e é a primeira vez que é utilizada para integrar a assistência aos portadores de doenças infecciosas com poder ser alvo de estudo para gerar resultados que comprovem a eficácia desse tipo de terapia. No estudo com leishmaniose mucosa será apontado também, além da melhora dos pacientes com a fonoterapia, uma comparação com pacientes que fazem a terapia pós-tratamento, ou seja, aqueles já curados da doença, mas que apresentam sequelas, e nos pacientes em tratamento da doença como prevenção e/ou redução do aparecimento das sequelas ”, explica Ana Cristina..
Claudia Maria informa que será feito o atendimento otorrino com avaliação endoscópica, videolaringoscópica e endoscopia nasal. Depois o paciente será encaminhado para a fonoaudiologia, em que serão feitas avaliação vocal acústica, de deglutinação e respiração como processo de triagem, após análise do prontuário, e em seguida acompanhamento de fonoterapia. “Estamos na fase da triagem com análise retrospectiva de prontuário e temos cerca de 150 pacientes para iniciar a pesquisa. É importante ressaltar que no Ipec a assistência de referência aos portadores de doenças infecciosas é integral, com visão de atendimento multidisciplinar para melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, conclui.