Pesquisa avalia o comportamento extrativista dos saguis
Uma pesquisa apoiada pela FAPEMA com os chamados “saguis-do-nordeste” (Callithrixjacchus), realizada no município de Chapadinha – MA, está avaliando nesses animais uma característica não verificada em outras famílias de primata.
Conhecidos no Maranhão como “soim”, desenvolveram comportamentos típicos de sociedades humanas extrativistas: a utilização de estratégias de exploração para garantir alimento durante todas as estações do ano.
O doutor em Psicobiologia, Ricardo Rodrigues dos Santos (UFMA-Chapadinha), especialista na área de concentração em comportamento animal, explica que o trabalho tenta buscar uma compreensão acerca de um possível modelo evolutivo sustentável desenvolvido por esses animais.
“Se trata de um grupo próximo evolutivamente dos seres humanos, o que pode ajudar a compreender quais fatores seletivos podem também desencadear alguns comportamentos em humanos”.
“São modelos vivos comparativos para a compreensão de comportamentos que possam ter evoluído juntos ou em paralelo”, avalia o coordenador do projeto.
Os saguis compõem sua alimentação basicamente por frutos, insetos e néctar, recursos cuja disponibilidade está sujeita à sazonalidade climática e não ocorrem durante todas as épocas do ano.
A peculiaridade desses animais, avaliada na pesquisa, é a capacidade de desenvolverem a habilidade de “induzir” algumas espécies vegetais a produzirem o alimento de que necessitam em épocas de escassez.
Esse alimento é o “exsudato”, uma espécie de goma viscosa rica em carboidratos, secretada por algumas plantas para cicatrizar lesões em sua superfície.
Os animais utilizam seus incisos inferiores, parecidos com um formão, para produzirem orifícios nos troncos e galhos das árvores, a fim de estimular a produção de goma que servirá como alimento.
E a habilidade dos pequenos primatas não para por aí: eles aguardam até o dia seguinte para consumir a substância que escorre da planta; após esse período, a resina se solidifica e inviabiliza o aproveitamento.
O estudo objetiva identificar os possíveis padrões de uso dessa capacidade alimentar pelos saguis-do-nordeste de forma sustentável, por meio do diagnóstico de um modelo extrativista de exploração que não se desenvolve pelo aprendizado, mas está na origem de todo o gênero.
Esse comportamento extrativo, de produzir o próprio alimento de acordo com as necessidades, é raro em primatas não-humanos, mas extremamente comum nas comunidades humanas.