Raupp propõe que Brics compartilhem uso de laboratórios de pesquisa
O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil, Marco Antonio Raupp, propôs na manhã desta segunda-feira (10) que os países que integram o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) compartilhem entre si o uso de seus laboratórios de pesquisa científica. Propôs também que os acordos bilaterais de cooperação científica já existentes sejam estendidos para os demais membros do grupo.
As sugestões de Raupp foram apresentadas no Primeiro Encontro de Ministros de Ciência e Tecnologia dos Brics, que está sendo realizado hoje e amanhã na Cidade do Cabo, África do Sul. Anteriormente, os Brics já promoveram encontros de ministros nos campos das relações exteriores, das finanças, da saúde e da agricultura, além de presidentes dos bancos centrais.
O encontro na Cidade do Cabo começou na manhã desta segunda-feira, quando cada ministro teve 20 minutos para se pronunciar. “Houve uma total convergência de opiniões e de propósitos”, avaliou Raupp no final da sessão. “Os representantes dos cinco países enfatizaram a importância da cooperação na área científica e manifestaram sua disposição para incrementar a realização de projetos de pesquisa e desenvolvimento em conjunto com os demais membros do grupo”.
Em seu pronunciamento, o ministro brasileiro sugeriu a criação de um programa para que “laboratórios já existentes em cada um de nossos países sejam abertos para atividades de pesquisa e desenvolvimento a pesquisadores dos demais países do agrupamento”. Para Raupp, o principal propósito da iniciativa é potencializar a infraestrutura de pesquisa existente no âmbito dos Brics e facilitar o intercâmbio de nossos pesquisadores. “O partilhamento de laboratórios é uma tendência da ciência moderna, que é feita cada vez mais por meio da colaboração entre parceiros, e uma medida de economia financeira”, disse.
Outra proposta, também na linha da racionalização de investimentos e ganho de tempo, é fazer com que os projetos de cooperação bilateral já existentes no âmbito dos Brics “sirvam de plataforma para a cooperação entre um número maior de países, talvez até mesmo os cinco membros dos Brics”. Entre outros exemplos, ele citou um projeto Brasil-China para construção e uso de satélites de observação da terra cujas imagens são disponibilizadas para a África do Sul.
Oceanografia e tecnologia da informação
Com o objetivo de potencializar ações que já são realizadas por cada país individualmente, Raupp propôs trabalhos conjuntos em ciências dos oceanos, que contariam com expedições oceanográficas programadas por meio de um calendário comum entre os parceiros, e pesquisas cooperativas no continente antártico, com uso das estações científicas de cada país dos Brics. “Manifestei aos colegas ministros o interesse do Brasil em manter intercâmbio entre o nosso recém-criado Instituto Nacional de Pesquisas Oceânicas e Hidroviárias [Inpoh] e os institutos oceanográficos dos demais países”, disse.
Ao observar que “a ciberinfraestrutura de pesquisa encontra-se baseada em conexões centralizadas na Europa e na América do Norte”, Raupp sugeriu que os Brics façam a integração de suas redes de alto desempenho para educação e pesquisa. “Trata-se de um objetivo estratégico do grupo e também uma maneira de contribuirmos para uma arquitetura efetivamente global da ciberinfraestrutura de pesquisa”, argumentou. “Temos que considerar também a importância da integração da rede Brics com outras redes, especialmente que possibilitem a participação de países da África, da América Latina e da Ásia”.
O ministro brasileiro propôs que o grupo avalie a possibilidade de criação de um instituto avançado para problemas complexos de ciberespaço e cibersergurança. Disse, também, da oportunidade de os Brics criarem laboratórios supranacionais para o escalonamento de produtos biotecnológicos visando testar sua produção em escala industrial.
Editais para inovação
Especificamente na área de inovação, Raupp sugeriu o lançamento de editais conjuntos e multilaterais que estimulem a realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento com a participação de instituições científicas e também de empresas. “Já temos uma experiência exitosa com a Índia em termos de editais conjuntos”, explicou.
Ele propôs ainda que os parques tecnológicos dos Brics tenham uma intensa colaboração. “As empresas abrigadas em parques tecnológicos, por definição, são as mais comprometidas com o desenvolvimento tecnológico e, portanto, com a inovação”, salientou o ministro. “São, portanto, empresas em condições favoráveis para a cooperação internacional, incluindo a possibilidade da criação de joint ventures”. Ouça entrevista do ministro ao programa de rádio A Voz do Brasil (a partir de 13’23”).
O encontro dos ministros de ciência e tecnologia dos Brics prossegue nesta tarde, quando serão discutidos os termos de uma declaração conjunta e de um memorando de entendimento.