Adolescentes com doença renal participam de tratamento que focaliza seus sentimentos
O convívio com a doença renal crônica significa enfrentar, muitas vezes, tratamentos dolorosos, com intervenções invasivas, procedimentos cirúrgicos, hospitalizações, uso contínuo de medicamentos e modificações no estilo de vida. Na adolescência, essa doença pode se tornar um período conflituoso, mas uma pesquisa analisa diferentes estratégias de enfrentamento da doença renal crônica em adolescentes, compreendendo o significado da doença para vida deles, além de conhecer os fatores determinantes de adaptação e adesão ao tratamento.
Os rins têm a função de filtrar o sangue, eliminar toxinas, controlar a quantidade de sal e água no corpo e ainda regulam a pressão arterial. Mas quando há perda dessa função, as medidas adotadas são as terapias de substituição renal, como a hemodiálise ou diálise. E conviver com a doença renal crônica e com o tratamento impõe enormes mudanças na vida.
Pensando nisso, a pesquisa busca a compreensão do significado que os pacientes, em tratamento no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, atribuem as relações, práticas e fenômenos sociais. Esse trabalho é desenvolvido pela psicóloga Ana Teresa Mendes de Miranda, que recebeu apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA, por meio do edital Universal (nº 001/2012).
O método aplicado proporciona aos participantes, de 10 a 19 anos, a expressão espontânea de seus sentimentos, no Centro de Nefrologia do Maranhão e na Clínica Pró-renal. A técnica escolhida foi a do grupo focal que se caracteriza pela coleta de dados por meio das interações em grupo, que discute sobre uma questão sugerida pelo pesquisador.
Desenvolve-se a interação a partir de um roteiro, com questões selecionadas que provocam uma discussão em torno da pesquisa. “É uma técnica muito boa, porque além de ser investigativa, oferece aos participantes uma contrapartida, a medida que propicia um momento de segurança para compartilharem o que pensam e sentem sobre a situação que estão vivenciando, junto de outras pessoas que estão em igual condição, podendo proporcionar o fortalecimento destes jovens, e uma melhor elaboração e entendimento de seus conflitos e dificuldades”, explicou a psicóloga.
Segundo a psicóloga Ana Teresa de Miranda, ocorre uma ruptura no modo de viver do jovem com doença renal crônica, provocando constrangimentos e sofrimentos marcantes. “A rotina de vida se altera tendo como prioridade a terapia de hemodiálise ou diálise. Há uma tendência ao isolamento social. A rotina de sessões os obriga a ficar grande parte de suas horas na máquina, dificultando a realização de atividades cotidianas, bem como o desempenho daquelas que conseguem realizar”, afirmou.
Para a pesquisadora os adolescentes atribuem à doença e ao tratamento o significado de uma “cruz”, como algo que nunca termina. “É interessante este entendimento dos pacientes porque a cruz é o símbolo do intermediário e do mediador, e a trajetória dos adolescentes, é marcada como uma situação limite que se sustenta ao longo do tempo e para o qual são necessários acordos íntimos de renegociação que os façam crer em possibilidades, a ter esperanças”, revelou Ana de Miranda.
Foram encontrados como fatores determinantes de adaptação: a construção de um projeto de uma vida sem hemodiálise e o exercício diário de se sentirem normais. A pesquisa continua com a análise dos grupos focais realizados com os pais e responsáveis dos adolescentes, favorecendo um maior conhecimento sobre o processo de enfrentamento destes jovens diante da doença renal crônica e o tratamento.