Com apoio da Fapema, empresa cria máquina que simplifica a quebra do babaçu e potencializa a produção

Por Sandra Viana 6 de dezembro de 2024

O coco babaçu serve como fonte de renda para diversas comunidades agricultoras no Maranhão, sendo utilizado na produção de óleo, farinha, biscoitos e outros derivados. Tradicionalmente, é extraído de forma manual, um processo demorado e exaustivo. Uma inovação tecnológica, criada pela empresa Apoena com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), por meio do edital Centelha II, fruto de parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), está mudando essa realidade. Uma máquina capaz de quebrar e descascar o coco babaçu em menos tempo e aproveitando a totalidade do produto. O equipamento foi exposto no estande da Fundação, na 2ª Feira da Agricultura Familiar (FEMAF), que acontece até sábado, dia 7, na Lagoa da Jansen.

A ideia de desenvolver a máquina surgiu quando a empreendedora, fundadora e CEO da Apoena, Márcia Werle, percebeu as dificuldades enfrentadas pelas cooperativas e famílias extrativistas, na extração do coco. Ela observou que o trabalho manual era muito cansativo e ineficiente, pois, a repetição das tarefas causava sérios problemas físicos nas trabalhadoras, e limitações no ritmo de produção. “A máquina simplifica e agiliza o processo, aumenta a produtividade e o mais importante, melhora as condições de trabalho para as pessoas que vivem dessa extração”, ressalta.

Ela conta que o desenvolvimento da máquina não foi simples. Para que a inovação fosse eficaz, era necessário entender profundamente as características do coco babaçu e suas variações, o que demandou testes constantes. O objetivo era fabricar um equipamento resistente e flexível o suficiente para lidar com diferentes tamanhos e formas dos cocos, o que exigia um design adaptável. Além disso, as dificuldades econômicas e as limitações orçamentárias foram obstáculos adicionais para a empresária. “Buscamos financiamento e apoio técnico, principalmente para a construção de protótipos e testes, que também foi uma etapa desafiadora, mas, conseguimos concretizar essa ideia”, comemora.

O presidente da FAPEMA, Nordman Wall, enfatizou que o incentivo à inovação e à sustentabilidade é um dos pilares da atuação da FAPEMA, que segue orientação do governador Carlos Brandão. “Projetos como o da Apoena mostram como é possível aliar tecnologia e tradição para gerar impacto social, ambiental e econômico. A máquina desenvolvida com apoio do edital Centelha II transforma a realidade de famílias que dependem do babaçu, promovendo mais renda, condições dignas de trabalho e aproveitamento integral dos recursos naturais. É isso que buscamos: fomentar iniciativas que transformem o Maranhão em um estado referência em ciência, tecnologia e inovação”, destacou Nordman Wall, presidente da FAPEMA.

Mais sobre o projeto

A primeira máquina durou três meses, devido à dureza do coco babaçu. A segunda quebrava o fruto, mas não era eficiente para a separação das quatro partes do coco. Em 2016, após diversas tentativas, foi construído o equipamento que conseguia quebrar e ainda, separar as partes do coco de forma eficiente. A máquina também possibilita um maior aproveitamento do produto. “Observei que as quebradeiras só utilizavam a amêndoa, que representa de 6% a 8% do fruto, o resto ou era descartado, ficava lá na floresta, ou virava carvão. Com a máquina foi possível pensar no processamento do coco e no aproveitamento integral, garantindo às comunidades uma renda maior e mais possibilidades no negócio”, explica Márcia Werle.

O equipamento tem causado um forte impacto nessa cadeia agrícola e ajudou a melhorar a vida nas comunidades que dependem do coco babaçu para sua subsistência. A máquina inovadora foi inserida na fábrica da Apoena e os cocos, que são comprados diretamente das comunidades das mulheres quebradeiras, sem atravessador, fez nascer um modelo de negócio onde todos ganham. “Vemos as famílias que vivem do coco babaçu como fornecedoras e parceiras, para crescermos junto”, enfatiza. Com esta estratégia, a renda das famílias fornecedoras do coco babaçu cresceu em média 30%, com a venda do produto inteiro.

Márcia Werle aponta a importância da FAPEMA no sucesso da invenção. Por meio de editais como o Centelha e o Inova Amazônia tração, a fundação auxiliou com recursos financeiros e suporte técnico para viabilizar este e outros projetos da empresa. “Esse apoio foi um diferencial para avançarmos e acelerar em muitos pontos, tornando nossas ideias uma realidade. A FAPEMA é uma parceira importante e incentivadora dos negócios inovadores do Maranhão, somando para que este cenário se desenvolva e coloque nosso estado no topo deste ecossistema”, ressalta a empreendedora,

O babaçu é composto por epicarpo, mesocarpo, endocarpo e amêndoa, que podem produzir 64 produtos, entre óleos, azeites, alimentos, cosméticos, medicamentos, carvão e energia, entre outros. A Apoena compra o coco inteiro das comunidades, o processa integralmente e faz o desenvolvimento de produtos nobres, a partir de coprodutos do babaçu. “Nossa meta para 2025 é termos 250 famílias fornecedoras envolvidas e termos processado no mínimo nove mil toneladas de coco babaçu”, adianta a CEO.

A indústria da Apoena está localizada na cidade de Coroatá, que pertence à região dos cocais, a 260 quilômetros de São Luís. No local, um hectare de babaçu produz em média 2,5 toneladas de coco, já impactados e ajudamos a preservar cerca de 75 hectare. Há previsão de uma segunda unidade, no Mato Grosso, onde também há coco babaçu em abundância.