Estudo avalia ações de proteção a répteis de solos arenosos no mundo, incluindo o Sul do Maranhão

Por Sandra Viana 6 de fevereiro de 2024

As mudanças climáticas estão impactando negativamente a sobrevivência de répteis que habitam os solos arenosos da área Diagonal Seca da América do Sul, na qual o Maranhão está incluso. A pesquisa ‘Mudanças climáticas em ambientes abertos: Revisitando a distribuição atual para compreender e salvaguardar o futuro dos Squamata psamófilos da Diagonal de Formações Abertas da América do Sul’, da mestra em Biodiversidade, Ambiente e Saúde da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Júlia de Oliveira, destaca a importância de uma gestão voltada para este problema ambiental. O estudo, apoiado pelo Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), foi publicado no Journal of Arid Environments, periódico internacional que trata de questões científicas, ambientais e ecológicas sobre terras áridas do mundo.

Os lagartos e serpentes que costumam viver enterrados em solos arenosos da Diagonal Seca da América do Sul (que inclui a Caatinga, Cerrado e Chaco) são pouco estudados e não se sabia ao certo como as mudanças climáticas poderiam afetá-los. A pesquisa chama para a urgência da implementação de políticas públicas dinâmicas, que foquem na conservação dessas espécies. “As mudanças climáticas são uma das maiores ameaças à biodiversidade, podendo modificar a distribuição geográfica das espécies e até provocar a extinção de outras. Pensando nisso, decidimos avaliar os efeitos das mudanças climáticas na distribuição geográfica de dez espécies desses répteis no período atual e futuro, em cenários climáticos otimista e pessimistas”, explica Júlia Oliveira.

No processo de execução da pesquisa, foram utilizados mais de três mil registros de ocorrência para 10 espécies-alvo, junto com informações ambientais e técnicas de modelagem de distribuição de espécies. Isso possibilitou a obtenção de resultados robustos, evidenciando que as mudanças climáticas vão alterar a distribuição das espécies, seja reduzindo ou deslocando sua área de vida original, indicando risco real de extinção, a partir do ano de 2040. Paralelamente, a pesquisa avaliou áreas que podem assegurar a persistência dessas espécies, frente às mudanças climáticas.

“Nosso estudo alerta que as condições climáticas futuras podem diminuir a eficácia das áreas de conservação na proteção da diversidade desses répteis, e indica a necessidade de repensar e ampliar a cobertura das áreas protegidas ao longo da grande extensão territorial da Diagonal Seca da América do Sul. Áreas de transição entre os biomas Caatinga e Cerrado, incluindo o sul do estado do Maranhão, e norte do Chaco argentino, geralmente negligenciadas quanto à sua biodiversidade e proteção, se mostraram adequadas para salvaguardar espécies em cenários climáticos futuros”, explica a pesquisadora.

Como resultados, o trabalho identificou áreas nos limites do Cerrado, Chaco, Mata Atlântica e Pampas, como prioritárias para futuros inventários. Estas regiões se mostraram adequadas para a ocorrência das espécies de répteis de solo arenoso, porém, alerta a pesquisadora, há ausência de registro documentado dessas espécies.

Essa conclusão aponta para a necessidade de uma abordagem proativa na implementação de medidas de conservação, que devem considerar áreas protegidas, monitoramento constante destas espécies a promoção de iniciativas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. “É um amplo campo de estudo, iniciado com esta pesquisa, na qual contamos com apoio da Fapema. Receber o financiamento foi indispensável para eu desenvolver minha pesquisa com mais tranquilidade e poder compartilhar resultados em congressos internacionais, por exemplo”, avalia.

Sobre a publicação do estudo no periódico internacional, ela avalia que atesta a relevância global das descobertas, proporcionando visibilidade à pesquisa maranhense. “Além disso, evidencia a importância de mais estudos para a compreensão e enfrentamento dos desafios ambientais globais”, disse Júlia Oliveira.

O presidente da Fapema, Nordman Wal, enfatiza que, “apoiar estudos desta natureza, soma no avanço do conhecimento e possibilita a elaboração de estratégias eficazes de conservação para espécies ameaçadas, portanto, pautada nessa preocupação, reforçamos o compromisso em promover a pesquisa científica como algo vital para o desenvolvimento sustentável do nosso estado”.

Nordman Wall acrescenta a importância da ciência apoiada por políticas públicas eficazes para enfrentar os desafios ambientais emergentes. “O compromisso do Governo do Estado e da Fapema com a pesquisa científica demonstra um grande passo à preservação da rica biodiversidade maranhense e à construção de um futuro mais sustentável”, reitera.

A pesquisa teve orientação da doutora em Biodiversidade pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), Thaís Guedes; e co-autoria do doutor em Ciências Biológicas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) , Diego Santana, do doutor em Ecologia pela Universidade de Brasília (UnB), Davi Pantoja e da doutora em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Karoline Ceron.