SBPC: Drogas de origem marinha são usadas no combate ao câncer
As profundezas do mar são cercadas de muitos mistérios que a ciência ainda caminha para desvendar. Escondidas no fundo dos oceanos podem estar, desconhecidas e inexploradas, as curas de muitas doenças que hoje são as principais causas de morte dos seres humanos. Pesquisadores brasileiros têm se dedicado ao estudo de componentes de animais marinhos capazes de matar células cancerosas e ajudar na absorção de drogas pelo organismo. Esse foi o primeiro assunto tratado durante o Simpósio “Biodiversidade e Sustentabilidade”, que aconteceu dentro da programação da 62ª Reunião Anual da SBPC (Natal/RN), e foi coordenado pelo pesquisador maranhense Antônio Silva Oliveira, vice-reitor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Valéria Laneuville Teixeira, pesquisadora do departamento de Biologia Marinha da Universidade Federal Fluminense, iniciou a discussão expondo alguns exemplos de medicamentos de origem marinha, que têm sido produzidos no mundo todo para combater o câncer. Segundo a pesquisadora, a PharmaMar foi a primeira empresa a desenvolver e comercializar uma droga de origem marinha no tratamento da doença.
“A biotecnologia marinha é um campo extremamente promissor no que diz respeito à investigação científica e o mar tem sido uma das principais fontes de novos produtos industriais. A indústria de cosméticos, por exemplo, é a maior detentora de patentes de produtos biotecnológicos de origem marinha”, destacou a pesquisadora.
Para Valéria Laneuville, é importante conhecer o potencial biotecnológico da biodiversidade brasileira, mas, é fundamental aplicar métodos de preservação dessa biodiversidade. “Grande parte do oceano permanece inexplorado e muitos problemas continuam à espera de solução, apesar dos avanços científicos registados nos últimos anos, O mar é uma inesgotável fonte de recursos, não apenas fármacos, mas também de alimentos e energias renováveis, por exemplo. Contudo, a exploração dos recursos marinhos deve acontecer com responsabilidade. Só assim é possível dar sustentabilidade ao uso de produtos biotecnológicos”, alertou.
Isaac Almeida de Medeiros, da Universidade Estadual da Paraíba, destacou que a produção de fitoterápicos no país ainda é pequena quando comparada ao potencial do mar, fauna e flora brasileiros. “Nós temos hoje, no Brasil, 512 medicamentos fitoterápicos, e o país detém 22% da biodiversidade do planeta. Desses medicamentos, apenas um é genuinamente brasileiro, o Acheflan. Ainda existe uma grande dependência externa na produção de medicamentos”, analisou.
Biodiversidade maranhense – O simpósio também contou com a participação de outro representante do Maranhão, a pesquisadora Maria da Cruz Moura, doutora e professora da UFMA, Campus Chapadinha. Em sua apresentação, ela destacou programas em rede que estudam a biodiversidade, dos quais o Estado faz parte. A pesquisadora enumerou exemplos, como a Rede Bionorte e a RedeBio, programas que localmente são geridos pela FAPEMA.
“O Maranhão possui sete cursos stricto sensu relacionados à biodiversidade. Temos projetos de pesquisa com ênfase no melhoramento do milho, na diversidade genética das abóboras, e estudos sobre os bacurizais. Estamos nos mobilizando também para a criação de um programa em rede nacional de abelhas nativas”, finalizou Maria Moura.
O sistema da biodiversidade maranhense foi colocado em debate com a participação de uma professora local. Quando um pesquisador participa desses espaços, ele traz os problemas do nosso Estado, apresenta soluções e os coloca na pauta nacional”, entusiasmou-se Antônio Oliveira, que também é membro da Comissão Científica da SBPC.