Pesquisa maranhense indica substância que inibe efeito cancerígeno de droga contra o calazar
NATAL/RN – Estudos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) mostraram que uma substância presente em medicamentos de reposição hormonal feminina, a isoflavona, é capaz de reverter danos causados pelo glucantime, principal droga utilizada no tratamento da leishmaniose (calazar). A pesquisa, que recebe financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA), foi apresentada na sessão de pôsteres da 62ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
As análises foram feitas no Laboratório de Genética e Biologia Molecular (LabGEM), sob a coordenação da pesquisadora Silma Regina Ferreira, com participação de alunos de iniciação científica. Utilizando o chamado “Teste do Cometa”, os estudiosos compararam os efeitos do tratamento, em camundongos, com as duas substâncias; primeiro usando-as isoladamente e, depois, em associação.
“Coletamos sangue da cauda dos camundongos e realizamos todo o processo do teste. Se os nucleóides, onde fica o DNA, apresentam uma cauda grande, é sinal de que há dano na célula, por isso o teste é chamado de cometa”, explica a jovem pesquisadora Ludymila Furtado, que representou o grupo de pesquisa na SBPC.
A isoflavona consegue reverter esses danos do glucantime quando administrada até a dose de 4 mg/kg. Com uma dose maior, entretanto, no caso 8 mg/kg, os pesquisadores constataram um efeito contrário. “Por isso, a importância da quantidade certa na utilização de fármacos. O glucantime, em excesso, pode ser danoso ao DNA, causando um futuro câncer”, alertou Ludymila.
A substância tem essa implicação porque age sobre o DNA do hospedeiro que provoca a doença; mas atinge, também, as células humanas, quebrando-as. “A isoflavona, ainda não se sabe como, protege esse DNA da atividade do glucantime de quebrá-lo”, observa a pesquisadora. A solução seria, então, administrar as duas substâncias, em associação, para que uma assegure a completa eficiência da outra contra o calazar.
Nos próximos estudos, os pesquisadores querem entender os mecanismos que tornam a isoflavona antimutagênica. “Queremos saber se a substância inibe ou protege o DNA humano ou se atua direto na outra droga”, indica a jovem pesquisadora.