Infecção de hepatite é induzida e eliminada em ratos com células humanas

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Por Ivanildo Santos 23 de março de 2010

Para compreender como bactérias e vírus agem no corpo humano e testar novos tratamentos, cientistas costumam usar animais para seus estudos. Mas o que esses animais tem a ver com doenças que afetam somente seres humanos? Um grupo convidado do La Jolla’s Salk Institute hepatitetrabalhou em torno desse problema com um meio-termo—um rato com um fígado humano.

“Precisávamos de um fígado humano em um rato como uma ferramenta para estudar as hepatites B e C, hepatotrópicos importantes que infectam somente células humanas”, explica Inder Verma, autor sênior do estudo publicado em 22 de fevereiro no Clinical Investigation Journal. “Seria ótimo se pudéssemos estudar o vírus da hepatite em uma placa de cultura, mas infelizmente as células vivas perdem suas propriedades in vitro.”

Em 2007, a equipe publicou um estudo no Proceedings of the National Academy of Sciences, no qual mostrou que poderiam substituir algumas células hepáticas de um roedor por células hepáticas humanas. O atual estudo foi uma nova etapa, na qual os cientistas puderam substituir um número maior de células para causar uma inflamação hepática após a exposição ao vírus. Mostraram também que as drogas antivirais convencionais poderiam ajudar no tratamento da infecção nos ratos chimera.

Os pesquisadores dizem que esse modelo permitirá selecionar uma nova terapia antiviral. “O tratamento atual para hepatite C é realizado com interferon e o ribaviron, que tem uma taxa do sucesso de 40%-80%”, diz Karl-Dimiter Bissig, principal autor do estudo.

Bissig afirma que a prevalência nos Estados Unidos dos genótipos resistentes faz com que a taxa de sucesso chegue perto de 50%. “Muitos dos pacientes retêm o vírus após a terapia”, diz ele. Além disso, o tratamento é muito longo e doloroso. “Há espaço para as terapias mais eficazes e que sejam mais bem toleradas por pacientes. Podemos usar esse modelo para a avaliação pré-clinica de drogas potenciais”, completa.

A pior consequência do vírus da hepatite B e da infecção de C nos seres humanos é o câncer no fígado. Porém, ao contrário dos seres humanos, os ratos infectados não mostraram nenhum sinal de câncer, apesar de serem particularmente suscetíveis à formação do tumor em consequência do imunossupressor que permitiu o transplante das células hepáticas humanas. “Pensávamos que poderíamos identificar tumores pela imunossupressão, mas isso não ocorreu”, diz Verma. “Em seres humanos, o carcinoma demora anos para se desenvolver”, completa ele, explicando que talvez o tempo de vida desse rato, de 2 anos, não seja suficiente para o desenvolvimento do tumor.

A equipe planeja usar em breve esse modelo para gerar órgãos com o transplante de células embrionárias ou com a indução de células pluripotentes, que seriam melhores que as células maduras do fígado. Também colaborará com pesquisadores da University of California em San Diego, para estudar outros patógenos que necessitam de um hospedeiro humano, como a malária.