Diagnóstico sorológico específico para Zika é desenvolvido pelo ICB-USP

Por Leidyane Ramos 17 de outubro de 2019

Uma das principais demandas surgidas após a epidemia do vírus Zika no Brasil, que ocorreu entre 2015 e 2016, foi o desenvolvimento de um teste sorológico que permitisse responder se uma pessoa fora infectada pelo Zika mesmo após ter sido infectada pelos vírus da dengue – que compartilham grande semelhança genética e imunológica com o Zika. Nos últimos dois anos, um grupo de pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) tem trabalhado neste desafio e desenvolveu um kit de sorologia para detecção de anticorpos (IgG) específico para o vírus Zika.

Trata-se de um diagnóstico que identifica se o indivíduo já teve contato com o vírus, mesmo em regiões endêmicas para o vírus da dengue. A pesquisa contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) resultou em um pedido de patente, licenciado pela empresa AdvaGen Biotec e recentemente aprovado pela ANVISA para uso comercial. O kit com 96 testes já está sendo comercializado pela empresa e é voltado principalmente para mulheres em fase fértil e para estudos epidemiológicos que visem determinar pessoas que já foram expostas ao vírus. O produto foi testado em cerca de 3.200 mulheres de todo o Brasil.

De acordo com Luís Carlos de Souza Ferreira, diretor do ICB-USP e um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, o kit identifica a presença do IgG – anticorpo produzido por indivíduos que já contraíram Zika e que permanece no organismo mesmo após a infecção, conferindo imunidade. “Como os vírus da dengue e Zika são muito parecidos, os testes de sorologia disponíveis hoje no mercado podem dar resultados falsos positivos ou falsos negativos, o que dificulta ou impede o diagnóstico preciso em regiões endêmicas para esses vírus”, explica.

Diferencial – Os pesquisadores do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do ICB, coordenado pelo professor Luís Carlos Ferreira, criaram e analisaram diversas proteínas recombinantes do Zika, avaliaram seu desempenho em testes de diagnóstico e encontraram um fragmento de uma proteína do vírus capaz de evitar a reação cruzada com os vírus da dengue. O teste possui 95% de especificidade para Zika, enquanto os outros do mercado possuem até 75%.

Segundo o pesquisador Edison Luiz Durigon, especialista em virologia que também participou do estudo, a principal vantagem do novo kit é a de facilitar o acompanhamento de gestantes e prevenir a microcefalia em bebês, principal consequência do vírus. Caso a mulher seja infectada só no período final da gestação, o bebê ainda corre o risco de desenvolver problemas neurológicos.

Baseado na técnica de ELISA, o kit também será útil para estudar a prevalência do Zika, uma vez que a maioria das pessoas infectadas pelo vírus não apresenta sintomas. Muitas vezes, as mulheres podem estar infectadas sem saber e passar o vírus para o feto. “Algumas crianças podem nascer sem microcefalia, mas ter lesões ‘invisíveis’ no cérebro. Até identificar o problema, o indivíduo já pode ter desenvolvido problemas cognitivos severos”, explica Durigon.

Com a disponibilização do kit, as gestantes poderão ser acompanhadas ao longo da gravidez e descobrir se contraíram o vírus durante esse período. Se esse for o caso, o intuito é promover um acompanhamento precoce para a criança como forma de melhorar o seu prognóstico. Já aquelas previamente infectadas pelo vírus estão imunes a novas infecções.

 

Fonte: ASCOM do Instituto de Ciências Biomédicas da USP