Fundações de Amparo à Pesquisa são estratégicas para o empreendedorismo tecnológico

Por Leidyane Ramos 26 de agosto de 2019

Além de apoiar projetos científicos e tecnológicos, as Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs) desempenham outro papel de suma importância no sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) do país hoje: estimular o empreendedorismo tecnológico por meio do financiamento de projetos de startups.

A avaliação foi feita por participantes de uma mesa-redonda sobre inovação, que aconteceu no dia 22 de agosto, durante o Fórum do Conselho das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap). O encontro, realizado entre os dias 22 e 23 de agosto, em São Paulo, reuniu representantes de FAPs de 23 estados do país.

“Temos uma expectativa muito grande em relação ao trabalho que a FAPESP e outras FAPs têm desempenhado em relação ao estímulo ao empreendedorismo tecnológico, que tem gerado grandes resultados”, disse Patricia Ellen, secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo.

“O PIPE [Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas, da FAPESP] tem tido um altíssimo sucesso e contribuído para o surgimento de startups altamente tecnológicas no país, que receberam muito investimento tanto da FAPESP como de universidades e instituições de pesquisa em São Paulo”, afirmou Ellen.

No ano passado, o Brasil registrou um recorde de unicórnios – startups cujo valor de mercado superou US$ 1 bilhão. Ao todo, cinco empresas alcançaram esse patamar. Alguns dos fundadores dessas empresas como, por exemplo, Guilherme Pinho Bonifácio, da iFood, foram formados em universidades estaduais paulistas, disse a secretária.
“O papel do apoio público ao empreendedorismo tecnológico começa na formação dos empreendedores e vai até o investimento em seus projetos por agências de fomento, como a FAPESP”, avaliou.

Em seus 22 anos de existência, o PIPE-FAPESP já apoiou mais de 2,3 mil projetos de pesquisa de micro e pequenas empresas no Estado de São Paulo. Os projetos mais promissores apoiados pelo programa, em termos de potencial de mercado, são aqueles com maior “ciência forte” associada, disse Sérgio Robles Reis de Queiroz, coordenador adjunto de Pesquisa para Inovação da FAPESP.

“Nossa experiência com o PIPE mostra que os projetos apoiados mais promissores, em termos de impacto, são aqueles que têm por trás não só ciência na fronteira do conhecimento, mas também equipes bem treinadas e muito qualificadas”, afirmou.

São justamente essas empresas com mais “ciência forte” e equipes bem qualificadas que receberam investimentos do Fundo de Inovação Paulista (FIP) – um fundo de capital de risco que conta com aporte de recursos da FAPESP, da Finep, do Sebrae e da Desenvolve SP –, ressaltou Francisco Jardim, CEO da SP Ventures, gestora do FIP.

Juntas, as agências participantes do FIP alocaram nos últimos anos R$ 65 milhões no fundo, direcionado para startups de base tecnológica no Estado de São Paulo, com ênfase nos setores de tecnologias agropecuárias (agritechs), tecnologias em saúde (healthtechs) e tecnologias financeiras (fintechs).

O fundo capturou mais de R$ 20 milhões no Brasil e mais o mesmo valor no exterior, o que permitiu aumentar seu patrimônio para R$ 105 milhões, disse Jardim.

“A ideia do fundo se encaixou muito bem com o programa PIPE da FAPESP, que tem financiado projetos de empresas com maior potencial de ganhar escala”, avaliou.

Há, porém, uma carência de startups com mais “ciência forte” no Brasil para desenvolver projetos com grandes empresas, apontou Ricardo Pelegrini, CEO e cofundador da empresa de consultoria Quantum4 Innovations Solutions.

“Um dos desafios do empreendedorismo tecnológico no Brasil que impede que ganhe a mesma escala em comparação com outros países é que as grandes empresas estabelecidas no país não estão abrindo as portas para as startups na mesma velocidade com que fazem no exterior pela falta de ciência nos projetos”, afirmou.

“O programa CPE [Centros de Pesquisa em Engenharia] da FAPESP pode desempenhar um papel estratégico para fomentar esse tipo de parceria ao atrair projetos do programa PIPE para esses centros”, apontou.

Na opinião de Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo e inovação do Insper e membro da coordenação da área de pesquisa para inovação da FAPESP, também é preciso capacitar os pesquisadores e empreendedores tecnológicos em novas abordagens de desenvolvimento de negócios.

“Há uma série de novos conceitos que os principais empreendedores do mundo já dominam, como design thinking – um conjunto de ideias para abordar problemas –, mas que os pesquisadores e empreendedores aqui no Brasil ainda não conhecem”, disse.

“É preciso um trabalho muito forte de capacitação nessas novas abordagens”, avaliou.

Na avaliação de Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP, outro desafio para o empreendedorismo tecnológico no Brasil está relacionado à propriedade intelectual.

As startups brasileiras têm muito menos patentes e receitas oriundas de propriedade intelectual em comparação com as norte-americanas, por exemplo, em razão da demora do processo de registro no Brasil, disse Pacheco.

“Os fundos de capital de risco não se preocupam mais se as startups no Brasil estão depositando patentes, porque, ao demorar 14 anos para obterem a concessão, a patente não tem o menor valor”, disse.

“Por isso é comum que, ao se internacionalizarem, as startups brasileiras vão para o exterior inclusive para obter patentes, algo que não conseguem fazer aqui”, afirmou.

Fonte: Elton Alisson | Agência FAPESP