Orangotangos mortos ilegalmente na última década: 20 mil. Processos judiciais: zero

orangotangos
Por Ivanildo Santos 17 de dezembro de 2009

Mais de 20 mil orangotangos foram caçados e mortos por madeireiros ou vendidos no mercado negro de bichos de estimação nos últimos dez anos, segundo novo relatório da revista Nature Alert, Ltd., em Bath, Inglaterra e do Centro de Proteção ao Orangotango (COP), de Jacarta, Indonésia. Também foi constatado que nenhum processo judicial foi movido por esses crimes.

A população de orangotangos Bornéu (Pongo pygmaeus), ameaçados de extinção, é atualmente estimada em menos de 50 mil pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, da IUCN – metade do que era há 60 anos. O orangotango de Sumatra (P. abelii), primo do Bornéu, também ameaçado, tem uma população estimada de apenas 7 mil e 300, uma queda de 80% nos últimos 75 anos.

O comércio internacional de orangotangos é proibido pela Convenção Sobre o Comércio Internacional das Espécies Ameaçadas da Fauna e da Flora Silvestres (CITES). Eles são protegidos na Indonésia, onde é proibido matar, capturar, transportar ou ferir esses macacos raros.orangotangos

No entanto, as mortes continuam. “O problema é que a lei nunca é aplicada, principalmente porque o órgão do governo responsável pelas florestas nunca demonstrou um sério interesse na proteção de animais selvagens e de seu hábitat”, constata Sean Whyte, diretor da Nature Alert.

O porquê das mortes de tantos orangotangos se resume, basicamente, a uma palavra: ganância. Os orangotangos não têm valor comercial; pelo contrário, é a terra em que vivem que está sendo queimada para dar lugar a enormes (e muitas vezes ilegais) plantações de palma para extração de óleo da planta. Ele é um ingrediente comum em muitos alimentos processados. Cerca de 90% do óleo de palma do mundo provêm da Indonésia e da Malásia.

“As florestas da Indonésia estão sendo destruídas a uma taxa equivalente a seis campos de futebol por minuto”, revela Richard Zimmerman, diretor da ONG Orangutan Outreach, na cidade de Nova York, responsável por arrecadar fundos para a COP e ajudar a financiar seu novo relatório. “Quando você sobrevoa Bornéu, você só vê quilômetros e quilômetros de plantações de palma. Há apenas alguns anos, você teria visto uma floresta tropical intocada. Ela simplesmente desapareceu e todos os seres vivos foram abatidos.”

Quando as florestas são derrubadas, orangotangos adultos são frequentemente baleados e mortos, mas não antes de serem abusados. “Estes seres pacíficos e sensíveis são espancados, queimados, mutilados, torturados e muitas vezes comidos. Bebês são arrancados de suas mães quase mortas para serem vendidos no mercado negro como animais de estimação a famílias abastadas, que os vêem como símbolos de status do seu próprio poder e prestígio. Isso tem sido documentado inúmeras vezes”, lamenta Zimmerman.

As plantações de palma se estendem por “uma área muito vasta”. Para piorar ainda mais a situação, “é uma monocultura que destrói a terra. Observando imagens de satélite da região, você vê queimadas em vez de florestas”, revela Zimmerman.

Hardi Baktiantoro, diretor do COP, contextualiza a situação com a seguinte declaração: “A indústria do óleo de palma é uma das maiores, se não a maior indústria ambientalmente prejudicial do mundo.”

A Nature Alert e o COP estão pedindo ao governo da Indonésia para começar a efetivamente impor as suas leis e parar de emitir novas autorizações permitindo a exploração madeireira ou plantações em áreas habitadas por orangotangos.

Até a Indonésia tomar alguma medida, os três grupos pedem às pessoas ao redor do mundo para não comprarem produtos que contêm óleo de palma. Recomendam também a pedir para que seu comércio local não venda esses produtos. “Os consumidores têm muita força, só falta utilizá-la”, afirma Whyte. “Principalmente nos Estados Unidos, precisamos que mais pessoas comecem a questionar os revendedores. Na Europa, a campanha tem sido bem-sucedida e na Nova Zelândia a Cadbury\\’s prometeu retirar o óleo de palma do seu chocolate.”

“O primeiro, e mais importante, passo é a conscientização, principalmente nos EUA”, completa Zimmerman. “Muitas pessoas não têm ideia do que é o óleo de palma, de onde vem, ou por que ele é um problema.”